Entender a mineração como um setor promissor, que tem a Agenda ESG como prioridade e que busca efetivar a redução do impacto ambiental, é fundamental. E como a mineração é crucial para o crescimento de um país, é preciso avançar e assumir o protagonismo global, aceitando os desafios e aproveitando a oportunidade de agregar mais valor ao seu produto.
Trabalhando por esses princípios, empresas as mais diversas investem substancialmente em PD&I, com resultados interessantes para as mineradoras, para seus clientes nacionais e internacionais e para a sociedade, gerando emprego e renda para comunidades do entorno das instalações minerárias.
Uma dessas empresas é a Innomotics – uma empresa do Grupo Siemens, antiga Siemens Large Drives – que anualmente investe mais de 5 bilhões de euros em P&D. Para chegar a este valor, a empresa defende que a inovação é, sem dúvida, o caminho para o equacionamento de dificuldades. Leonardo Muradas lembra que, assim como em outros países, o Brasil tem muitos problemas que pedem novas ferramentas e boas maneiras para superá-los. Porém, o País também está entre os principais mercados na adoção de inovação e tecnologia, inclusive na mineração.
A mineração brasileira, confirma Muradas, não fica atrás em relação ao resto do mundo quando o assunto é inovação. Ao contrário do que se acreditava no passado, o Brasil é referência, afinal, o setor adota com normalidade as novas soluções que ajudam a produzir mais e tornar melhor o processo minerador, com segurança crescente.
“O Brasil tem um potencial muito grande, e cabe à indústria brasileira investir e aumentar sua capacidade para fornecer equipamentos para os grandes potenciais de empreendimento mineral existentes. A riqueza está aí. O Brasil precisa de uma indústria mais fortalecida. Tem uma engenharia forte e conhecimento de mineração. O nosso potencial de caminhar para a mineração 4.0 certamente abre oportunidade para qualificar a mão de obra. Se a indústria mineradora brasileira começar a processar mais o minério, isso se intensificará cada vez mais”, reforça Hiram Freitas, diretor industrial e de Desenvolvimento da SEW-Eurodrive.
A demanda tanto por novos materiais, quanto pelas tradicionais commodities, são fundamentais para o desenvolvimento da sociedade. Na atualidade, a atividade do setor mineral é cada vez mais fiscalizada pela sociedade e a pressão sobre a implementações de práticas vinculadas ao ESG aumenta dia a dia. Há também a necessidade de que a sociedade veja o setor de forma diferente e completa. Essa equação, de acordo com Muradas, mostra a existência de “muito espaço para investimentos em tecnologias que suportem a conquista das metas propostas, como desenvolvimento de produtos que minimizem o impacto da indústria”.
De acordo com o executivo da Innomotics, há uma ou duas décadas, a mineração estava bastante atrasada em relação a outros setores. Atualmente, ele considera que houve uma aceleração no setor. “Hoje, não é difícil encontrarmos o uso de tecnologias de última geração em grandes mineradoras, como caminhões autônomos e otimizadores que utilizam algoritmos complexos de inteligência artificial”, complementa Muradas.
Mina digital e mineração 4.0: Tendência ou realidade?
De acordo com a diretora do CETEM, os desafios que permeiam o setor mineral, incluindo “a necessidade premente do cumprimento de exigências impostas por órgãos ambientais e demandadas pela sociedade” encontra sua solução nas tecnologias relacionadas à indústria 4.0. Além disso, esse conceito, também transforma os processos operacionais de modo a atingir melhores índices de lucratividade, eficiência, produtividade e capacidade de produção. Silvia França reforça a sua visão de que a indústria 4.0 é um movimento que visa a otimização de resultados e a sustentabilidade operacional, por meio da automação, otimização, análise e integração de dados, customização operacional, e controle.
“A automação e as inovações digitais aplicadas aos processos produtivos são tendência em todos os setores industriais, e na mineração não poderia ser diferente, pois promovem processos mais eficientes e sustentáveis, destaca França.
Nesse contexto está inserida a Mina Digital, com operação autônoma e virtualização de ativos, assim como à aplicação de robôs em ambientes de atividade minerária. O conceito é explicado pelo líder de Soluções para Mineração da Innomotics ao detalhar o que muda em cada etapa de produção: “Na mina, teremos equipamentos autônomos, não apenas caminhões, ou com operação remota; na planta, digital twin (gêmeo digital), assim como operação e manutenção suportadas por IA; na ferrovia, além da eletrificação de locomotivas, soluções de IA contribuem para o aumento de segurança; e no porto, novamente gêmeo digital e operação autônoma ou remota”.
Para equipamentos, as previsões contemplam a aplicação de soluções que aproveitam melhor a energia, por meio de sistemas regenerativos. Maior eficiência energética ou menor impacto ambiental tem sido foco de investimentos, em especial no transporte de material, mais um dos desafios cotidianos da mineração, que encontram na tecnologia o suporte para minimizar as ocorrências.
Insere-se nesse contexto, como rota de escoamento da produção, o mineroduto, estrutura que usa tecnologias avançadas para agilizar o transporte da polpa. No entanto, como atravessa regiões nem sempre facilmente acessáveis e percorre longas distâncias, é preciso garantir que toda a cadeia de distribuição dos minérios trabalhe eficientemente, pois, se o mineroduto para, tudo para.
A necessidade de manter essas estruturas em perfeito estado de operação vem respondendo por evoluções em sua manutenção e integridade, ou seja, as empresas que prestam serviços devem acompanhar todas as tendências, entender as necessidades e avançar. Sendo assim, nos últimos anos, houve mudança no foco das empresas prestadoras de serviço nessa área e no das próprias mineradoras. Hoje, a maioria dos minerodutos são inspecionados por robôs, mundialmente chamados de PIGs, que são também utilizados em diversos segmentos da atividade econômica e da cadeia logística. A atenção das operadoras se centraliza na detecção e no tratamento de ameaças como corrosão, amassamentos causados por diferentes fatores naturais assim como por terceiros, trincas, abrasão, defeitos de fabricação, acúmulo de resíduos entre tantas outras possibilidades.
A Rosen, no mercado europeu há 40 anos e no Brasil desde 1997, quando assumiu o primeiro projeto, é uma das empresas fornecedores desses equipamentos, que são projetados sob medida, atendendo praticamente todas as mineradoras brasileiras. Essa ferramenta de investigação de dutos possui sensores capazes de indicar, com precisão, indícios de amassamentos, corrosão, trincas, propriedades do material, traçado e características da tubulação. O processo compreende a passagem do equipamento com diferentes tecnologias por toda a extensão do mineroduto. Tudo começa “pela limpeza, para retirada de resíduos acumulados no decorrer da operação onde uma campanha de limpeza pode demandar até 20 passagens de PIGs, seguindo com as demais ferramentas inteligentes para detectar qualquer possibilidade de anomalia que venha a colocar a operação do mineroduto em risco, mapeando toda sua extensão e identificando os pontos de interesse com precisão submétrica, semelhante a um GPS”; detalha Luciano Baptista, diretor de Execução de Projetos da Rosen Brasil.
“As mineradoras trabalham com prazos muito rigorosos, e atendem ao mercado interno e externo. As tarefas são muito desafiadoras e tudo precisa ser muito bem calculado e a qualidade não pode ser ignorada”, relata Baptista, frisando que, como “melhor forma de escoar a produção, o mineroduto não pode sofrer danos passíveis de gerar paralisações nas operações, e nossa especialidade é gerar produtos que cuidam e preservam os ativos da indústria mineradora”.
A presença dos PIGs nos minerodutos comprova o avanço da tecnologia e materiais utilizados nos componentes de equipamentos robóticos para atuação em ambientes agressivos. Para ratificar os avanços na eletrônica embarcada em máquinas, equipamentos e instrumentos para a atividade mineral, o diretor da SEW-Eurodrive faz uso da pelotização do minério, um produto em que “o Brasil é forte na extração, mas é também uma das fases em que a mineração depende de evoluções tecnológicas e tem início a partir do preparo da pelota. Os sistemas para essa atividade estão entre os melhores do mundo. A parte de IoT e sensoriamento de equipamentos, telemetria, processos de manutenção preditiva, termografia e outros, está muito bem avançada, mas não o suficiente”.
O futuro vislumbrado por Freitas une essa realidade à existência de oportunidades “para avançar na mineração 4.0, no mercado brasileiro, um mercado de players grandes”. Contudo, há barreiras e, entre elas, cita “a forma de levar as tecnologias digitais para dentro de uma máquina robusta, que trabalha em um regime pesado. A mineração brasileira começa a percorrer este caminho, embora seja um processo que precisa se adaptar à condição das minas. Os equipamentos terão que ficar cada vez mais robustos, com sensores especiais que aguentem as condições da área minerada”.
Frente a todo o cenário descrito, Freitas deixa um convite: “O que nós precisamos agora é olhar a mineração no sentido de reduzir o impacto ambiental”.
Necessidades peculiares
No entanto, para os técnicos do CETEM há outras tendências a serem consideradas, como a necessidade de “adaptações e melhorias nas operações clássicas de beneficiamento, para atender aos novos desafios tecnológicos do setor,” uma vez que “a escassez de depósitos minerais de alto teor leva à exploração de depósitos minerais complexos em granulometria de liberação fina, principalmente aqueles que contêm elementos estratégicos essenciais para uma economia de baixo carbono”, lembra Braga.
O coordenador de Processamento e Tecnologias Minerais do CETEM indica, ainda, a “recuperação de partículas finas/ultrafinas (<15 micrômetros) e de partículas grossas (>100 micrômetros) por flotação, apesar de ser um problema bastante antigo na indústria, segue sendo um tópico de extrema importância no contexto da tecnologia mineral. O aproveitamento de lamas de minério de ferro, por exemplo, é de fundamental importância, tanto do ponto de vista de melhor aproveitamento do recurso mineral, mas em especial, na diminuição da quantidade de material a ser depositado em barragens”.
Alguns desenvolvimentos recentes na indústria mineral para recuperação de minerais finos e complexos e de baixo teor são elencados pelos técnicos do CETEM, tais como novos processos e uso de diferentes células de flotação, principalmente em minérios de granulometria fina; recuperação de resíduos valiosos de mineração, a moagem agitada (Vertimill, IsaMill) ainda é pouco utilizada, porém adequada, pois usa atrito e/ou abrasão para quebrar partículas finas e grossas, bem como para remoção de superfícies oxidadas e hidrofílicas que prejudicam, sobremaneira, a concentração por flotação; e novas tecnologias adequadas para a classificação de resíduos, que incluem ciclones semi-invertidos e uma combinação de hidrociclones e peneiras finas (classificação híbrida).
A lista inclui, também, flotação de partículas grossas de minérios com uso de reatores de leito fluidizado; uso de células pneumáticas mais adequadas a partículas superfinas; e, nos processos gravíticos, o desenvolvimento dos separadores de leito fluidizado de contrafluxo ideais para partículas densas e finas.
A aplicação de tecnologias ore sorting e bulk ore sorting, é tida como grande aliada nas etapas de pré-classificação, frente a minérios com fluxogramas de processamento cada vez mais complexos. A separação de minério com auxílio de sensores (bulk-ore sorting) aplica-se a várias etapas do processamento mineral, pois é adequada para eliminação de resíduos, desvio de material para diferentes fluxos de processo e reprocessamento de estéril e/ou rejeitos, dentre outras.
Outro ponto sensível do processamento mineral envolve o desaguamento eficiente, tanto para reaproveitamento da água de processo quanto para a produção de rejeitos pastosos ou filtrados, que permitem a utilização de técnicas de disposição mais seguras (em pilhas), permitindo a eliminação gradativa das barragens de rejeito convencionais, como mencionado por Silvia França.
“O impacto da qualidade da água, em especial nas operações de flotação, é tema de fundamental atenção devido às perdas da recuperação dos minerais de valor causada pela presença de espécies iônicas deletérias ao processo”, ressalta França, esclarecendo que “operações de separação sólido-líquido utilizam reagentes químicos especiais (polímeros floculantes, modificadores de reologia, etc.) que auxiliam na remoção da água, permitindo maior reaproveitamento da mesma no processo, além da produção de rejeitos mais secos, aumentando a segurança da disposição”.
Além disso, a filtragem de rejeitos minerais também está sendo bastante aplicada, tendo como meta “reduzir os riscos de disposição em barragens convencionais. Há empresas que já estão fazendo a disposição de rejeito filtrado em grandes praças de disposição de rejeitos, que também são obras geotécnicas, porém de maior nível de segurança devido à presença de pequena quantidade (ou ausência) de água”, afirma França, reconhecendo, ainda, que as dificuldades técnicas na produção de rejeitos ultrafinos (< 20 micrômetros), com umidade em níveis baixos o suficiente que possibilitem a deposição em pilhas, têm servido de motivação para o desenvolvimento constante de inovações na área de desaguamento.
Com preço baixo a conta não fecha
Concordando que a indústria da mineração faz a lição de casa, investe, inova e compartilha conhecimento, Luiz Alberto Infanti, diretor regional da Westech, faz uma provocação ao comparar o setor de mineração com a indústria 4.0 e constata que “a mineração está algumas décadas atrasada comparativamente com outros setores”. A principal causa citada por ele é a busca por preço baixo, “desprezando-se os ganhos que opções mais tecnológicas podem trazer. Essa é uma dificuldade no Brasil, pois a maioria dos clientes é refratária à aquisição da melhor tecnologia e análise de custo-benefício, nas concorrências.
ossa experiência revela que os clientes compram pelo preço mais baixo, sem considerar benefícios a médio e longo prazos. Além disso, em nosso país existe uma tradição de não atualizar as plantas existentes, no sentido de evitar os novos investimentos”.
“As mineradoras não podem mais buscar o menor preço. Devem centralizar atenções na qualidade, analisando a quantidade de players entregues dentro do cronograma físico/financeiro, promovendo uma integração entre comprometimento de fornecedores e prazos de entrega, eliminando retrabalhos que podem dobrar os custos de serviços contratados”, ressalta Johnis Toniolo, diretor do Grupo Toniolo, concordando com o executivo da Westech.
Geralmente, essas seleções das empresas contratadas acontecem por propostas técnicas e comerciais, as quais são descritas pelas equipes de operações e que possivelmente estão confortáveis com determinadas atividades que comumente executam, não procurando pontos específicos desafiadores, onde realmente pode haver melhorias para ocorrer uma possível baixa de custo, melhora na segurança e confiabilidade produtiva. Essas ações reduzem ainda mais a possibilidade de que se desenvolvam possíveis novas tecnologias para o processo minerador. Para que esta teoria funcione na prática, é necessário que mineradoras estimulem pessoas e empresas a resolver problemas pontuais.
Na visão de Infanti, a tecnologia está acessível a todos os níveis de mineradoras. O porte de cada uma não impede o acesso aos avanços. O que impacta na escolha são os custos em investimento e operacionalização, bem como as dificuldades em relação aos processos de beneficiamento.
Como caminho, Toniolo recomenda que o setor considere os BID – sigla de Bidding Process, um termo em inglês que significa um convite para apresentação de lance, usado para reduzir os custos com transporte, selecionando empresas com serviços qualificados – como forma de trazer novas tecnologias e remunerações, com linhas de pagamentos específicos, dispostos a captar reais oportunidades de redução de custos. “É necessário ter cuidado com processos viciados. Tecnologia requer melhoria constante, com vantagens estendidas aos parceiros que também buscam inovação. Porque todos precisam se comprometer com a execução do melhor serviço”, alerta Toniolo.
Mesmo frente a esses posicionamentos, os entrevistados concordam que o nível de segurança hoje exigido pelas mineradoras instaladas no Brasil é equiparável ao praticado nos principais países fornecedores de minérios.
Em comparação ao Chile, Canadá e Austrália, o diretor da Concrete Canvas Brasil, Ian H. Pacey, acredita que o nível tecnológico da mineração brasileira está em evolução com relação à segurança, creditando à Agência Nacional de Mineração (ANM) parte da responsabilidade – “a instituição que está trabalhando muito forte, junto às mineradoras, para atingirem os mesmos patamares desses países”. – e lembra: “Nesse contexto, o IBRAM tem um papel muito importante e se destaca”.
Informação, tecnologia e segurança a serviço do meio ambiente
As evoluções tecnológicas do setor, por respeito aos avanços e para melhor atender o mercado, são atentamente acompanhadas por João Paulo Vieira de Ávila, da Pimenta de Ávila, consultoria especializada em geotecnia de barragens, atuando em elaboração de projetos de contenção e construção, direcionadas à segurança das estruturas, como barragens, por exemplo, que podem apresentar alto potencial de risco.
Acompanhando a inclusão crescente de tecnologias no setor, para manter-se atualizado e muitas vezes à frente de seus clientes, Ávila naturalmente adicionou à consultoria os processos aplicados na forma digital, desenvolvendo e comercializando há dez anos um software de gestão de segurança de barragens. Em constante evolução e recebendo investimentos frequentes visando a ampliar cada vez mais a segurança e ser útil em condições normais ou de emergências, o software permanentemente incorpora funções. A versão mais recente, em fase de testes, utiliza a Inteligência Artificial no tratamento dos dados coletados.
“Adotamos este critério, porque não resolve gerar informações sem uma estrutura de interpretação adequada. Esta necessidade se acentua na medida em que não há velocidade de formação de especialistas em ritmo condizente ao crescimento do mercado”, justifica-se Ávila, lembrando de portaria da Agência Nacional de Mineração e boas práticas internacionais que impõem a contratação de sistemas de gestão de dados de estruturas de disposição de rejeitos.
Mesmo com a consultoria ainda se constituindo o principal negócio da empresa, o software detém 10% do negócio, acusando crescimento que dobra a cada ano. Hoje, gerencia mais de 100 estruturas e mantém atualizado cadastro com mais de 20 mil moradores do entorno dessas unidades.
“Há um mercado representativo para este serviço que perdurará por alguns anos. São milhares de barragens com real potencial de dano em função, principalmente, da altura e volume que possuem. Também há muito estudo e projeto para melhorar a disposição dos rejeitos. Desde a década de 90 projetamos soluções de desaguamento de rejeito que reduzem muito o volume, racionaliza o espaço e cria estruturas mais seguras”, reconhece Ávila.
As metodologias e os instrumentos de gestão e controle, segurança, contenção e recuperação das estruturas minerárias, na visão do presidente da Pimenta de Ávila, ainda tem muito a evoluir. Há inúmeras pesquisas em andamento.
Diferencial competitivo também é tecnologia
Utilidade pode ser palavra-chave quando o tema é tecnologia. E a definição de Johnis Toniolo aproxima-se dessa condição. “Para qualquer tecnologia ser funcional, primeiramente os profissionais devem se conectar e compreender profundamente o comportamento dos processos, permitindo que o material trabalhe a favor da eficiência. Toda tecnologia desenvolvida deve considerar a segurança como base para reduzir os impactos ambientais”, explica e reforça seu ponto de vista admitindo que “a segurança é uma das soluções que oferece maior margem de ganhos na atividade minerária, seja em produção ou pessoal”.
Segundo o diretor do Grupo Toniolo os produtos da empresa cumprem esses requisitos. São escavadeiras anfíbias, cuja utilização mostra “reduções de custos e de quantitativo dos equipamentos, no serviço de aterros de conquista sobre rejeitos. A competência aplicada no produto substitui cerca de 4 a 9 equipamentos, como caminhões, escavadeiras e tratores de esteira, necessários para executar esta operação e que sempre têm um risco envolvido na operação”.
A solução desenvolvida pela empresa – como detalha Toniolo – “controla o lençol freático das barragens de rejeito, secando e estabilizando o rejeito em grandes volumes, que, então pode ser retirado e conduzido diretamente para as pilhas, com umidade ideal para compactação. E qual é o custo deste processo? Cerca de 50% do valor de operacionalização de uma planta de filtragem de rejeito. E ainda elimina os passivos ambientais, com menos pessoal envolvido no sistema, agregando segurança às estruturas, diminuindo a carga sobre os barramentos e tendo um markup nulo. Criamos uma solução desenvolvida e pensada exclusivamente no cliente, preparada para gerar mais benefício, que, quando comparada aos métodos convencionais, realiza uma operação em menos tempo por um terço do custo usual, sendo que apenas com combustível a economia é de 90%”.
Asseverando que “o lucro próprio não é o único objetivo, mas a vivência com as dificuldades dos nossos clientes, que nos transmitem certos problemas que nos balizam na criação de produtos realmente eficazes que conduzem à otimização das dificuldades”, o diretor do Grupo Toniolo elenca entre os êxitos “um portifólio com mais de 29 sites, entradas em situação de paradas críticas, presença no equacionamento de três desastres ambientais de grande porte, sempre executando serviços de alto risco, entre outras centenas de ações de urgência”.
Toniolo ressalta os diferenciais da empresa ao garantir: “Desenvolvemos as maiores máquinas de longo alcance da América Latina, dotadas por sistemas inteligentes de precisão, de dragagem ambientalmente correta, que não geram plumas que impactam a vida aquática ao seu redor, entre outros projetos remotamente controlados e totalmente autônomos”.
Equipamento novo, treinamento especializado
Presente em 90 países, a Concrete Canvas Brasil mantém unidades fabris no Reino Unido, e há 14 anos, está em terras brasileiras. Produz revestimento de alta tecnologia, para canais para escoamento de minério e água, produto que é uma manta de matriz tridimensional de poliéster impregnado com cimento especial e de baixo carbono, sete vezes mais resistente à abrasão, no comparativo com outros concretos, e outra vertente para uso em ambientes ácidos e alcalinos. O CEO e diretor da empresa, Ian H. Pacey, explica que o produto gera menos 65% pegada de carbono, com durabilidade de 70 a 120 anos, de acordo com a fluidez dos diferentes materiais nele aplicado.
“Esta manta em rolo, como um tapete, após a hidratação, endurece em 24 horas e está pronto para uso, revestindo o canal escavado, ou no talude, e bacias. A manta tem 5, 7 ou 10 mm de espessura, com Fck = 80 Mpa, e substitui 20 cm de concreto. A manta é impermeável, com um geossintético já acoplado no lado inferior da manta como revestimento, e não há vazamento. Mesmo aplicada em solo de qualidade não muito boa e com movimentação, a manta se autossustenta, sem criar rachaduras. É indicada também para irrigação (cursos d´água), embora tenha as grandes mineradoras como maiores usuários no Brasil”, enfatiza Pacey.
A tecnologia avançada aplicada a essa manta geossintética impermeável com revestimento cimentício composto, com tecnologia de fibras tridimensionais e um mix especial de cimento especial, exige treinamento das equipes para instalação no cliente final. A Concrete Canvas Brasil investe neste diferencial, com a finalidade de garantir a correta aplicação, além de contar com empresas certificadas e capacitadas para fazer a instalações.
“Nossos engenheiros treinam e supervisionam as empresas contratadas pelo minerador. Nosso produto também se aplica a bacias de contenção, canais grandes e pequenos. Mas o cuidado na aquisição envolve também a realização de estudo de estabilidade dos taludes, antes de aplicar a manta, para avaliar a necessidade de grampeamento de solo”, fala Pacey.
Como detalha Pacey, a camada geossintética dessa tecnologia “é que entra em contato com o terreno, e a matriz tridimensional de fibras que já vem impregnada com um mix especial de cimento seco, bem compactado, reduz em 65% a pegada de carbono da obra. Além disto, o produto tem até sete vezes mais resistência à abrasão em comparação ao cimento convencional; apresenta alta produtividade incrível na obra, de m2 dia de aplicação, até dez vezes superior à do concreto comum, e usando somente 1/5 da mão de obra. Como resultado, o produto permite que as obras sejam mais limpas, seguras, mais rápidas, com menos uso de equipamentos pesados e com redução de 90% de água e 90% menos cimento. O produto permite também trabalhar na chuva, sem afetar a mistura água x cimento”.
Correção de desvios na competitividade
A tecnologia também tem o objetivo de diminuir custos e desperdícios, aumentar a produtividade, promover a sustentabilidade, reduzir riscos e ampliar a segurança do trabalhador, da população do entorno e do próprio negócio. Tudo isso se reflete em ganhos mensuráveis e imensuráveis.
As soluções desenvolvidas pela Innomotics, por exemplo, frisa Leandro Gomes – líder de Soluções para Mineração da Innomotics, “retornam aos clientes bilhões de dólares. Recentemente, um dos clientes no Brasil reportou ganhos de US$ 3 bilhões, em seu Centro de Operações Integradas, que controla a produção e o escoamento de minério de ferro para a Ásia, ou seja, um processo logístico extremamente complexo que necessita de informações em tempo real para prever e corrigir desvios, antes que as perdas ocorram. Se os números da mineração são expressivos, os ganhos acompanham”.
Presente em toda a cadeia de valor da indústria de mineração – da mina ao porto – a Innomotics mantém portfólio de soluções completas em eletrificação e automação, incluindo motores e inversores de frequência. Nos últimos anos, aumentou o foco em digitalização, e oferece ao mercado sistemas de gestão de produção, como o MES ou Manufaturing Execution Systems, com aplicações para otimização, além de centros de operação integrados e soluções de operação remota de equipamentos de pátio.
“Contamos com mais de um século de experiência, na indústria. Temos, em nossa cultura, o desenvolvimento de novas tecnologias e produtos combinados à robustez e à confiabilidade que o setor de mineração demanda. Investimentos em P&D são uma constante voltada para oferecer sempre as melhores soluções para os principais players do mercado, em qualquer região do mundo”, aponta Gomes.
O líder de Mineração da Innomotics sinaliza a existência de soluções disponíveis no mercado que podem minimizar os gargalos que reduzem a eficiência da empresa. Como exemplo, cita as situações em que a ferrovia já está operando próxima à sua capacidade, sem haver necessidade de estocagem de material. E resume: “Nestes casos, uma gestão de produção integrada é essencial, e inclui saber a quantidade e a qualidade do que deve ser produzido, como estocar e quando transportar a produção. E, logicamente, como fazer tudo isso da forma mais eficaz. As soluções existentes hoje e disponíveis no mercado tornam possível integrar e fazer a gestão de produção de diferentes sites; identificar, prever e reduzir gargalos; e reduzir perdas”.
Inovação aplicada a barragens e ao aproveitamento de rejeitos
Há investimentos substanciais direcionados às barragens e ao aproveitamento de rejeitos. Nesse sentido, prevê Ávila, “a experiência das últimas décadas vem tendo sucesso com relação à utilização de rejeitos como material construtivo dos próprios depósitos, minimizando os impactos ambientais. O desaguamento é utilizado hoje para rejeito novo e, para as barragens existentes, a indicação é o processamento do material e sua disposição em áreas já impactadas, como as de cavas exauridas, que podem ser preenchidas aproveitando-se esse rejeito.
A médio e longo prazos, nas áreas de lavra e de deposição de rejeitos recuperados, existe também a tendência ao design for closure, que compreende a elaboração do projeto de início já vislumbrando as condições para o fechamento da mina, o que torna o fechamento mais suave e menos impactante, devolvendo a área ao meio ambiente. Essa prática vem ganhando importância e aceitação.
“O Brasil de hoje, frente aos outros países, está acelerando a adoção de padrões superiores e rigorosos comparáveis aos adotados mundo afora. O custo com todo esse processo envolve investimentos, mas leva a indústria a um mais elevado nível de segurança”, observa o executivo da Pimenta de Ávila
Outra empresa que atua no segmento de disposição de rejeitos é a Westech. Especializada em projetos, testes, dimensionamentos e fornecimentos de equipamentos para separação sólido-líquido, como espessamento, clarificação, filtração e peneiramento, aplicáveis na disposição direta de rejeitos de mineração sem necessidade de filtros. A empresa detém tecnologia para poço de alimentação que, de acordo com seu diretor regional, “proporciona redução do consumo de floculantes em média de 20%, nas operações de espessamento e clarificação de polpas; redução da pegada hídrica do cliente; aumento da recuperação de água em média de 20%; melhoria da claridade do overflow, para reutilização, resultando também no menor desgaste dos equipamentos a montante do espessador”.
Os desastres mais recentes, com o rompimento de barragens, contribuíram para maior controle na disposição de rejeitos da mineração, concorda Infanti, mas, “no Brasil, as soluções são concentradas em filtração das lamas de rejeitos, diferentemente do que acontece internacionalmente, que opta pela disposição em pasta, método que permite investimentos e custos operacionais muito mais baixos, com segurança ambiental e industrial aprovada por autoridades de diversos países produtores de minérios”.
Tornar o sensível robusto: o desafio do fornecedor
Alta tecnologia sob encomenda é a especialidade de empresas como a SEW-Eurodrive Brasil no atendimento às mineradoras e a grandes clientes internacionais fornecedores da mineração.
A maior empresa brasileira do setor é também um dos principais clientes dessa fabricante de sistemas de acionamento e movimentação, que, em fábrica verticalizada, atende a mineração com engenharia local especializada em design e desenvolvimento de produtos, como redutores térmicos, redutores planetários para fabricantes de sistemas HPGR (high pressure grinding roll) – rolos de moagem de alta pressão direcionado a reduzir o tamanho da rocha bruta –, acionamentos para peneiras vibratórias e rotativas, esteiras de transporte, stacker e reclaimers, rodas de caçamba, giro de lança, redutores térmicos para transportadores de longa distância, entre outros equipamentos.
No caso da Vale S/A, como informa Freitas, a exigência é por “equipamentos especiais que não dependem de componentes eletrônicos, para facilitar a manutenção. Mas estes mesmos equipamentos têm telemetria. Então é um mercado restrito, de poucos players, e para sobreviver nisso tem de estar no estado da arte. O Brasil está no estado da arte e deveria tentar impulsionar a indústria siderúrgica para não exportar toda a produção mineral, mas sim agregar valor no País. Há ainda uma oportunidade de ir adiante, abre-se uma porta para o Brasil processar o minério e agregar mais valor”.
Interlocução como promotora de inovação
Intermediação intersetorial e multidisciplinar é a chave para a solução de muitos problemas citados pelos entrevistados e também a propulsora de inovações. Para estabelecer esse diálogo, várias organizações mantêm fóruns especiais, como a ABIMAQ, com o Conselho de Mercado de Metalurgia e Mineração e a Câmara Setorial de Máquinas e Equipamentos para Cimento e Mineração (CSCM), ambos coordenados por Rodrigo Franceschini de Oliveira, além de outras câmaras setoriais que se relacionam com esses setores, tais como energia solar, manufatura avançada, válvulas, bombas, transmissão mecânica etc.
A CSCM elenca e define projetos de interesse comum aos fabricantes nacionais de máquinas e equipamentos, promovendo a participação em eventos específicos do setor, realizando a prospecção de negócios e conectando as empresas ao mercado de mineração nacional e internacional. Os fabricantes debatem novas tecnologias, condições de financiamentos adequadas, política industrial do setor, necessidades atuais dos mineradores e empresas de engenharia e atuam no desenvolvimento do mercado de forma global.
Já o Conselho objetiva o fortalecimento e o desenvolvimento da metalurgia e da mineração através da união de forças dos interlocutores desses setores, congregando as empresas fabricantes da cadeia, entidades de classe, mineradoras, siderurgias, empresas de consultorias, instituições de ensino e pesquisa, bancos, entidades governamentais entre outros players. É responsável por promover o debate de oportunidades, investimentos, inovações tecnológicas e soluções de melhoria da competitividade.
Em suas reuniões trimestrais, relata Franceschini, os membros do Conselho atuam para “superar os desafios, integrar as entidades, focar em tecnologia, apresentar novidades que possam ser adequadas ou incorporadas às mineradoras, mesmo que em futuro próximo”.
Exemplo dessas discussões são os temas sensíveis e atuais, como transição energética, que é uma necessidade tanto da indústria de máquinas e equipamentos quanto das mineradoras e de outros setores da economia: “Recentemente, durante uma das reuniões do Conselho, especialistas de energia verde e descarbonização foram convidados para discorrer sobre o uso do hidrogênio e outras fontes de energia. Esses assuntos são apresentados e debatidos, e espera-se que os participantes levem as informações para suas organizações, aprofundando a reflexão e aplicando o que for possível”, informa Franceschini.
Temas recorrentes incluem a necessidade das mineradoras e das empresas de engenharia, tais como melhoria da eficiência das máquinas e equipamentos, utilização sustentável da água, energia, como já citado, e outros recursos necessários, assim como aspectos institucionais relacionadas ao fortalecimento da imagem do setor de mineração perante a sociedade, em busca do reconhecimento adequado a cada atividade realizada.
A essa relação Franceschini agrega tecnologias para aproveitamento dos rejeitos da mineração, gerando valor social, ambiental e monetário. Entre as tendências, o destaque está com digitalização, operação remota e controle mais eficientes dos processos. Essas tecnologias já estão sendo paulatinamente incorporadas e têm demonstrado ganhos significativos em termos de eficiência operacional para as minas e plantas de beneficiamento. Essa maior eficiência contribui para tornar a mineração brasileira mais produtiva, eficiente e competitiva no mercado global. Além disso, essas tecnologias muitas vezes ajudam a viabilizar os investimentos de capital (Capex) e os custos operacionais (Opex) das mineradoras.
Entre as conquistas nesse sentido, o presidente da CSCM e do Conselho de Metalurgia e Mineração da ABIMAQ elenca a implantação de plantas mais enxutas e eficientes do que há 15 ou 20 anos: “Atualmente, com equipamentos mais modernos, é possível obter a mesma produção em uma planta com até 30% menos área. Isso resulta em menor custo operacional, facilita a manutenção e melhora a comunicação, uma vez que há menos equipamentos realizando os mesmos processos, principalmente no beneficiamento mineral, que englobam desde a moagem e o condicionamento de polpa até a flotação, lixiviação e outros processos. Somados, esses aspectos reduzem os custos operacionais e permitem que o Brasil, além de produzir e comercializar o minério in natura ou com baixo valor agregado, verticalize gradativamente a produção e agregue mais valor ao minério, beneficiando toda a cadeia minerária.”
Os membros do Conselho também têm focado sua atenção nos minerais estratégicos definidos pelo Ministério de Minas e Energia e discutido estratégias e inovações utilizadas pelo setor para que o Brasil se destaque na liderança da produção desses minerais, atendendo a demanda que cresce de forma exponencial. Minerais como fosfato, potássio, cobre, lítio, nióbio, vanádio, cobalto, terras raras, entre outros, são alvo de discussões e ações promovidas pelo Conselho visando a impulsionar o setor e a aproveitar as oportunidades de mercado.