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EY e IBRAM concluem estudo de riscos e oportunidade em mineração

Uma palavra que norteia todas as ações da indústria merece atenção especial. Faz parte de toda ação em que o respeito ao meio ambiente é fator preponderante. No Brasil, a agenda ESG conquista notoriedade a cada dia, visto que as mudanças climáticas e a volatilidade geopolítica têm impulsionado a transformação dos novos modelos de negócios das empresas de mineração e metais.

Um estudo realizado pela Ernst & Young Global Limited (EY), em parceria com o IBRAM, denominado Riscos e Oportunidades de Negócios em mineração e Metais no Brasil, lançado em junho de 2023, na sede do IBRAM, em Belo Horizonte (MG), inclui considerações sobre o acesso ao capital financeiro, a licença para operar e comercializar, o portfólio de produtos e a atratividade a futuros talentos. Um segundo fator considera a necessidade crescente de as empresas repensarem onde encontrar o valor otimizado a ser capturado e, como consequência, organizarem seus negócios e suas cadeias de abastecimento.

Nas duas últimas edições do estudo realizado pela EY, em parceria com o IBRAM, os princípios ESG foram apontados como a maior preocupação entre as empresas de Mineração e Metais, sendo este o tema mais mencionado pelos executivos do setor. O levantamento de 2023 foi aprofundado a partir das práticas condizentes com a realidade brasileira, por meio de entrevistas realizadas em março do mesmo ano.

Os princípios ESG se aplicam à mineração por sua característica de atividade primária, fazendo parte, portanto, da cadeia de fornecimento da maioria dos produtos consumidos. Consequentemente, o setor é vítima de crescente pressão social, especialmente de investidores, para sua descarbonização e conformidade com outras metas globais de sustentabilidade. Os impactos das mudanças climáticas, como enchentes, crises no sistema elétrico e escassez de água potável, acrescidos de falhas na governança corporativa, comprometem a segurança socioambiental, onerando os custos dessas empresas e podendo inviabilizar sua licença social para operar.

ESG como agente transformador

Em 2022, a indústria da mineração faturou R$ 250 bilhões, detectando uma redução de 26%, em relação a 2021. Uma das causas dessa queda considera a redução nos volumes exportados, além da redução de cerca de 25% nos preços médios do minério de ferro. Essas atividades minerárias geraram uma arrecadação total de tributos de R$ 86,2 bilhões, no mesmo ano, recolhidos por quase metade do total de municípios brasileiros, índices que apontam a relevância desse setor para a economia do País.

Bruno Balbi, sócio de Supply Chain e Operações da EY constatou que a agenda ESG está trazendo mudanças ao setor em três aspectos principais: acesso à terra e aos minerais, por meio da licença social para operar; forma mais eficaz de desenvolvimento da atividade, atraindo os melhores profissionais para exercer esse trabalho; e acesso ao capital, com investidores considerando ESG o fator prioritário para tomada de decisões de alocação de capital.

O levantamento demonstrou que a transformação dessa indústria tem se materializado por meio de cinco arranjos em negócios: transformação no portfólio, integração horizontal, integração vertical, economia circular e soluções baseadas na natureza, como mostrado na página 231.

O Brasil e seu potencial econômico

“No Brasil, houve crescimento da demanda e da margem de lucro de alguns materiais, como ouro e aço e, para alguns executivos ouvidos, este cenário deve se manter em 2023; no entanto, poderá sofrer pressão de riscos jurídicos, como novas tributações”, afirma Raul Jungmann, presidente do IBRAM. E ele completa a análise: “Em um cenário de concorrência global por investimentos, o Brasil chama a atenção pelo potencial econômico de seus recursos minerais de alta qualidade, sítios geológicos inexplorados, além de uma matriz energética de baixo carbono quando comparada a outros países”.

Por fim, a força de trabalho foi um destaque da pesquisa global de 2023. A crescente consciência a respeito das atividades com altos riscos, ao meio ambiente e à sociedade, dificulta que novas gerações se interessem por mineração e metalurgia. Afonso Sartorio, líder de Energia e Recursos Naturais da EY defende que as práticas ESG irão impactar positivamente a construção de uma cultura organizacional mais atualizada e um posicionamento mais atrativo para futuros talentos. “O que, mais uma vez, reforça porque as questões de ESG estão no topo das oportunidades”, finaliza o executivo da EY.

Para Jungmann, a mineração está conectada a extensas cadeias produtivas, sendo insumo para todos os setores da indústria da transformação, além de criar a expectativa de ajudar a construir comunidades prósperas, com objetivos específicos em educação, saúde e geração de renda. E completa: “Nosso futuro está intimamente conectado à evolução da indústria da mineração”.

A mineração foi responsável por 40% do saldo brasileiro na balança comercial, em 2022, e o faturamento do setor no mesmo ano foi de R$ 250 bilhões. Dados dessa indústria apontam que, no Brasil, 80% de toda energia elétrica utilizada é produzida a partir de fontes renováveis, enquanto a média global é de 29%. Já em relação à matriz energética, 48% provêm de fontes renováveis no Brasil, enquanto a média global é de 15%. Isso significa que o potencial da mineração brasileira pode ainda ser positivamente impactado pela busca global por minerais e metais “verdes”.

Licença social para operar no Brasil

A licença para operar está entre as principais preocupações das mineradoras e das empresas especializadas em metais, no Brasil. O estudo da EY, em parceria com o IBRAM, pontuou entrevistas com executivos da alta gestão das maiores empresas do setor, no País. Os eventos recentes, com forte impacto socioambiental, aumentaram os desafios para obtenção da licença social que permita operar, bem como a complexidade dos processos de licenciamento ambiental.

O Brasil está entre os cinco maiores mercados de minérios do mundo, com produção de 91 tipos de substâncias, entre ouro, cobre, níquel, bauxita (alumínio), fosfato, manganês e carvão. É o maior produtor de nióbio e o segundo na produção de minério de ferro, com 19% do mercado mundial. O minério de ferro é o principal produto brasileiro, representando 96% do total das exportações do setor, sendo a atividade minerária responsável por 40% da balança comercial, em 2022. Conforme declara Sartorio, “percebe-se que a mineração está preocupada em deixar um legado, rastreando suas cadeias de suprimentos em razão, entre outros fatores, dos objetivos de descarbonização e de enfrentamento do comércio ilegal”.

Sartorio afirma que faz parte, nesse contexto de mudança e de evolução do setor, a preocupação na forma de fechamento das minas, conduzindo para uma recuperação ambiental feita da melhor maneira possível. Além disso, os territórios explorados pela atividade produtiva devem ser autossuficientes, após o encerramento dos processos da mineração.

Visão de valor a longo prazo – Em termos de governança, o relacionamento com as comunidades do entorno das operações é fundamental. Todas as necessidades locais devem ser compreendidas, mantendo o diálogo com as lideranças políticas locais, com órgãos reguladores e especialistas, gerando um ambiente favorável para o desenvolvimento socioeconômico desses locais.

O estudo Riscos e Oportunidades de Negócios em mineração e Metais no Brasil observou, também, que as empresas de vanguarda promovem investimentos imediatos para atender às urgências. Trabalham com uma visão de valor a longo prazo, contribuindo para que o governo local e a sociedade tenham estrutura e autonomia para estimular o crescimento da economia, independentemente das atividades da mineradora na região.

Objetivamente, de médio a longo prazo, os territórios poderão depender menos dos impostos e benfeitorias gerados pela mineração, diversificando suas atividades econômicas para que haja preparo, inclusive, para o fechamento das minas. Quando esse dia chegar, as rotas de logística por rodovias, ferrovias e portos, geralmente construídas pelas mineradoras, bem como a infraestrutura elétrica, poderão ser usadas por outros setores, viabilizando a criação de hubs e parques industriais.

Por outro lado, a oportunidade reside na busca crescente por minerais e metais produzidos de forma mais limpa e sustentável, visto que o mercado consumidor está disposto a investir mais em produtos que respeitam tais condutas. Mineradoras com modelos de negócios integrados têm-se beneficiado por meio da oferta de itens com certificado de origem, principalmente entre aquelas que atuam na indústria de metais preciosos. O Brasil tem reservas de minerais estratégicos para a transição energética, como lítio, vanádio e cobre, utilizados na produção de baterias elétricas e seus componentes – essenciais para a eletrificação dos transportes e motores em geral.

O potencial da mineração brasileira pode, ainda, ser positivamente impactado pela busca global por minerais e metais “verdes”, pois o País está à frente da média global em capacidade de geração de energia limpa. Como reforça Sartorio, “a matriz energética, formada por 45% de fontes renováveis, permite que o Brasil tenha produtos com menor impacto de emissão de carbono, em comparação com concorrentes de outros países. Paralelamente, estamos criando soluções baseadas no respeito à natureza, incluindo a forma de manter os biomas saudáveis, gerando desenvolvimento socioeconômico e possibilitando o sequestro de carbono”.

Principais questões de ESG

A pesquisa da EY e IBRAM traz um grande bloco sobre sustentabilidade, como ESG, mudanças do clima e licença social para operar. “O Brasil ainda é um país pobre e desigual. Nesse contexto, as empresas do setor estão fazendo movimentos importantes para superar a forma de contribuição assistencialista observada no passado, voltada para o curto prazo, e desenvolvendo projetos estruturantes de desenvolvimento dos territórios, nos quais elas estão situadas”, diz Sartorio, completando que as transformações nos modelos de negócio e nas cadeias de valor, dessas empresas, refletem-se na digitalização e na atratividade da força de trabalho.

Os executivos respondentes da pesquisa foram inquiridos sobre questões direcionadas aos princípios ESG, sobre quais os segmentos de mineração e metais enfrentarão maior escrutínio de investidores. Em primeiro lugar, com 78% das respostas, apareceu o impacto nas comunidades locais. Na sequência, com 76%, gestão da água; seguida de descarbonização, com 55%; mudanças climáticas, com 46%; produção sustentável, com 35%; emissões de escopo 1 (geradas no processo produtivo da empresa com a queima de combustíveis para energia térmica) e escopo 2 (emissões que se referem à eletricidade que a empresa consome), com 31%; diversidade, equidade e inclusão, com 27%; fraude e corrupção, com 17%; emissões de escopo 3 (ocorridas ao longo do ciclo de vida dos produtos e serviços da empresa, incluindo as emissões geradas por fornecedores, pelo transporte dos minérios, pelos rejeitos da produção, pelo processamento metalúrgico e pela reciclagem pós-consumo), com 15%; biodiversidade, com 13%; trabalho análogo à escravidão, com 4%; e trabalho infantil, com 1%.