Listado entre os mercados de nutrientes agrícolas mais importantes do mundo devido à grande potência do agronegócio, o Brasil tem reservas de fósforo e de potássio, mas a produção brasileira ainda é de baixo volume, diante da alta demanda, justificando a necessidade de um Plano Nacional de Fertilizantes. Além disso, como a soja responde por 44% da produção brasileira de grãos, a demanda brasileira por fertilizantes à base de fosfato é maior do que em outras regiões.
A redução da dependência externa é um processo de longo prazo e subordinado ao fortalecimento das condições de competitividade da indústria nacional, segundo as fabricantes de fertilizantes instaladas no Brasil. Como exemplo, cita-se a Mosaic, com minas de fosfato em Catalão (GO), Tapira (MG), Araxá (MG), Cajati (SP), Patrocínio (MG) e Patos de Minas (MG), além de produzir potássio na mina de Taquari-Vassouras (SE); e a Eurochem, com uma mina de fosfato no Brasil, que se constitui a primeira unidade produtiva fora da Europa, a planta de Serra do Salitre, em Minas Gerais.
Elias Lima, vice-presidente de Operações da Mosaic Fertilizantes, fala da complexidade das reservas brasileiras: “Há minas com capacidade de extração próxima do fim, bem como há reservas minerais de fosfato e potássio que poderiam ser exploradas, mas para as quais não há custo competitivo que viabilize financeiramente essas novas operações”.
Para Lima, a solução envolve “diálogo no Brasil nas diferentes áreas do governo com agências e também com países e com produtores para garantir a demanda, mesmo em um contexto geopolítico incerto”. Recomenda, em âmbito doméstico, “equilibrar o nível de competitividade em relação ao produto importado”, via propostas listadas no Plano Nacional de Fertilizantes que propõem a implantação de políticas públicas capazes de fomentar projetos estratégicos e reverter a dependência externa para o fornecimento de um insumo absolutamente estratégico para o futuro do Brasil.
Gustavo Horbach, vice-presidente de Produção Upstream e Projetos/CapEx da EuroChem na América do Sul, fala sobre a contribuição da empresa para “tentar reduzir a dependência externa de fertilizantes, algo que demanda ações estruturadas de longo prazo e cuja solução só será possível por meio de parcerias entre o poder público e a iniciativa privada”.
A EuroChem estruturou-se para, com o Complexo Mineroindustrial de Serra de Salitre, adicionar 1 milhão de toneladas de fertilizantes fosfatados por ano no mercado doméstico, contribuindo para reduzir a dependência externa por este insumo. “Nossa produção será equivalente a 15% do consumo brasileiro deste nutriente”, complementa o vice-presidente da empresa, lembrando que a empresa produz mais de cem tipos de fertilizantes com os três grupos de nutrientes primários da agricultura, nitrogênio, fósforo e potássio, com quatro minas fora do Brasil, duas de fósforo e duas de potássio.
Com foco em nutrição de plantas, especialmente com potássio – com uma mina em Sergipe – e fosfato – em unidades em São Paulo, Goiás e Minas Gerais –, dois dos três nutrientes mais vitais para plantas, a Mosaic Fertilizantes tem matriz de abastecimento estável e segura, uma vez que a suas importações têm como origem principalmente a América do Norte, informa o vice-presidente de Operações da empresa, e ressalta: “A empresa tem colaborado com o Plano Nacional de Fertilizantes e investido nas operações no Brasil”.
Aos tradicionais gargalos logísticos em portos, estradas e ferrovias, falta de isonomia tributária (ICMS) entre os fertilizantes nacionais e os importados e morosidade em licenciamentos ambientais listados pelos entrevistados, Lima agrega a necessidade de investimentos no detalhamento do mapeamento geológico brasileiro “que poderia revelar novas oportunidades de investimentos no futuro”.
Horbach sugere como caminhos “o mapeamento de plantas e projetos de produção de fertilizantes que estão paralisados no Brasil. O conhecimento geológico e o cadastro do subsolo estão diretamente associados à essa demanda. Do ponto de vista da mineração, as questões de licenciamento ambiental exigirão um debate estruturado para garantir segurança jurídica aos investidores, respeito pleno ao meio-ambiente e o correto desenvolvimento dos projetos. E há também os gargalos logísticos que travam o abastecimento das indústrias e o escoamento da produção”. Ou seja, essas alternativas estão alinhadas às cinco diretrizes do Plano Nacional de Fertilizantes 2050.
Nas palavras de Lima, os esforços depositados no PNF devem fortalecer políticas de incremento da competitividade da produção e da distribuição de insumos e de tecnologias para fertilizantes no País de forma sustentável. Elenca como primeiro trabalho importante “implementar ações e políticas que reduzam os custos de investimento, mas, sobretudo, assegurem a competitividade para as operações que estão atualmente produzindo e as futuras”.
Na prática – para o vice-presidente de Operações da Mosaic Fertilizantes – “o Brasil precisa direcionar suas prioridades em políticas públicas que assegurem competitividade tributária, investimentos em melhores acessos logísticos, espaço e boas condições de infraestrutura portuária para garantir insumos, e incentivos para inovação e desenvolvimento de novos produtos (coprodutos), por exemplo”.
Investimentos
Enquanto o projeto brasileiro da EuroChem não está concluído – a previsão é 2024 –, a unidade de Serra do Salitre produz 400 mil toneladas de concentrado fosfático por ano. As obras para implantação das plantas químicas do Complexo estão adiantadas, com mais de 75% de avanço no cronograma. Essa iniciativa, frisa Horbach, “consolida o conceito adotado pela empresa de atuar da mina à mesa. Dentro deste contexto, nossos processos contemplam a operação na mina de rocha fosfática, de onde extraímos o mineral (apatita), uma unidade de concentração deste elemento, e, na sequência, processos de solubilização destes minerais realizados com o auxílio das plantas de ácido sulfúrico e fosfórico, tendo como produto o fertilizante granulado. O desafio da produção é garantir a sinergia entre as áreas de forma que os processos ocorram de forma sustentável, contínua, integrada e eficiente”.
A Mosaic Fertilizantes, “reforçando seu compromisso com o produtor rural brasileiro, sua crença no futuro promissor deste setor no País, na certeza de que o agronegócio nacional é uma das mais importantes potências agrícolas em crescimento, com papel fundamental em garantir a segurança alimentar dos brasileiros e de habitantes de vários outros países, anunciou, no primeiro semestre deste ano, investimentos no Brasil da ordem de R$ 1,2 bilhão, como parte de nossa estratégia de crescimento e desenvolvimento de negócios, visando aumentar os canais de distribuição para estar presente em mais regiões e elevar o número de clientes atendidos”, explica Lima.
Parte desse aporte – R$ 400 milhões – direciona-se à construção e operação de uma unidade de mistura e armazenamento de fertilizantes em Palmeirante (TO), com a meta de gerar cerca de 1 milhão de toneladas de fertilizantes “para uma região com mais de 500 mil propriedades rurais de acordo com o Censo Agropecuário 2017”, comenta o vice-presidente de Operações da Mosaic Fertilizantes. Também fortalecerá a presença da empresa “no Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí, Bahia), região com grande potencial de crescimento estratégico no Brasil. O investimento tem potencial adicional para estender até a região nordeste do Mato Grosso e norte de Goiás”.
Os demais R$ 800 milhões previstos direcionam-se à extensão da operação do Complexo Mineroquímico de Taquari-Vassouras para extração de silvinita – minério usado no beneficiamento de potássio – para, pelo menos, até 2030.
“Desde que assumiu a operação do Complexo Mineroquímico de Taquari-Vassouras em 2018, a Mosaic Fertilizantes tem investido recursos e esforços técnicos para estudar soluções economicamente viáveis e de longo prazo para a continuidade da exploração de potássio no estado, valorizando esses importantes ativos para Sergipe e o Brasil”, destaca Lima.
Pesquisas realizadas pela Mosaic Fertilizantes levaram à decisão de focar os esforços na exploração de silvinita, “por apresentar uma melhor viabilidade técnica e econômica, incluindo a ampliação da área de lavra atual”, comenta o vice-presidente de Operações da empresa, definindo a unidade de Taquari-Vassouras como estratégica, pois “é a única operação brasileira de potássio, cuja demanda é grande no mercado nacional e com previsão de continuar crescendo nos próximos anos. Com os investimentos, estima-se que a produção aumente de 300 mil toneladas para 450 mil toneladas por ano. Todos esses investimentos no Brasil colaboram para o aumento da competitividade da produção interna e garantia da continuidade das atividades no local”.