Preocupação com pessoas, diversidade e inclusão e foco em sustentabilidade, preservação da biodiversidade e ESG devem ser pontos comuns a quaisquer mineradoras, independentemente do porte. Verticalização, por outro lado, marca a atividade de apenas algumas. Logística é dificuldade comum a muitos segmentos da economia, e na mineração encontra complexidade considerável devido inclusive a distâncias e à localização remota da maioria das unidades. Investimentos em todas essas áreas são permanentes e se estendem, ainda, em busca de ganhos de produtividade e de reduções de custos.
“A mineração é uma atividade que enfrenta diversos desafios e está em constante transformação. Em geral, o setor avançou muito na questão da proximidade com as comunidades, na escuta e no diálogo aberto e inclusivo, promovendo a participação efetiva da população”, resume Rodrigo Gomides, vice-presidente de Operação e gerente-geral Adjunto da Kinross. Seu balanço é positivo, ao garantir: “Estamos evoluindo na comunicação, tanto na acessibilidade quanto na agilidade, conforme a atualidade demanda, bem como nas práticas de gestão e de segurança, com transparência e consideração a todas as partes interessadas. O setor vem enfrentando outros desafios, tais como a adoção de medidas que visam ao desenvolvimento sustentável dos territórios diante do pós-mineração e as ações efetivas de controles ambientais, compartilhando os resultados com transparência e adotando soluções de mitigação efetivas.”
Meio ambiente
O foco das mineradoras, em meio ambiente, antecede e vai além da criação da sigla ESG. Abrange controle sobre emissão de gases, uso de fontes renováveis de energia, conservação e recuperação de áreas mineradas, ação junto às comunidades instaladas no entorno da mina e da planta, assim como das afetadas direta ou indiretamente na região do trajeto do minério, que pode envolver vários municípios e estados, com características e necessidades específicas.
É o caso da Alcoa, que produz bauxita, alumina e alumínio primário em três unidades operacionais no País (Poços de Caldas – MG, São Luís – MA e Juruti – PA), abastecendo os mercados nacional e internacional. Com um modelo de mineração de baixo impacto, que associa produção e sustentabilidade, a mineradora equilibra operação, conservação do meio ambiente e respeito às comunidades do entorno, investindo em projetos de responsabilidade socioambiental e desenvolvimento compartilhado.
ESG está entre um dos principais pilares da empresa e os investimentos nesse campo iniciaram há 58 anos, “com o desenvolvimento de um modelo de mineração de baixo impacto, com sustentabilidade, que respeita o equilíbrio entre a extração de bauxita e a preservação do meio ambiente, o desenvolvimento econômico e o comprometimento com a saúde e a qualidade de vida das pessoas”, explica Thaíza Bissacot – diretora Regional de Meio Ambiente da Alcoa.
Desenvolvimento regional – Na Anglo American, a partir de 2018, em âmbito global, foi instituído o Plano de Mineração Sustentável, que guia as ações da companhia por meio de três pilares principais – ambiental, social e governança – e tem entre suas metas a proteção, a preservação, a recuperação e a conservação do meio ambiente; o aumento da eficiência operacional em recursos hídricos; a neutralidade em carbono das operações; a liderança corporativa de confiança; e o desenvolvimento regional colaborativo nos municípios em que a empresa opera, com o objetivo de diversificar as economias locais, reduzindo, assim, a dependência da mineração.
Já a Kinross, que tem como valor e diretriz para suas ações, atuar de forma segura e responsável, tem com a segurança um compromisso inegociável. Para isso, ela opera com rigor técnico, obedecendo aos mais altos padrões de segurança, inclusive com adoção de tecnologias de ponta. Especificamente no Brasil, a empresa possui mina a céu aberto, e a planta conta com usina de beneficiamento, estrutura para disposição de rejeitos, e infraestrutura de apoio, sempre seguindo as melhores práticas ESG.
Além de gerir com segurança os seus impactos ambientais, garantindo a conservação do meio ambiente e a integridade de seus empregados, terceiros, comunidades próximas, população de Paracatu (MG) e sociedade em geral, a Kinross, realiza o controle operacional de ruído, poeira e vibração, a recuperação das áreas mineradas, a gestão dos recursos hídricos e o manejo de fauna e flora, a fim de preservar a biodiversidade local. Também contribui para o desenvolvimento da região onde está inserida e objetiva ser reconhecida nacional e internacionalmente como referência positiva de mineração próxima à área urbana, no País e no mundo.
Mapeamento de riscos operacionais – Na AngloGold Ashanti, o entendimento é de que todos na empresa devem compreender os riscos e trabalhar para que não ocorram lesões e incidentes, cabendo à empresa o gerenciamento dos riscos em seus negócios e atividades. Nesse campo, a empresa, em 2022, revisou globalmente o Padrão de Controle de Riscos Críticos (Major Hazards Control Standard – MHCS), definindo os 10 principais riscos das atividades que desenvolve e estabelecendo, de forma ainda mais clara, o papel e as responsabilidades de cada um na gestão da segurança.
Em seguida, minucioso trabalho de disseminação abrangeu 100% da empresa, foram realizados diversos treinamentos e adotadas ações para conscientização dos empregados sobre os riscos críticos de cada atividade. Durante 2023, o MHCS está sendo conectado “a todo o ciclo de vida do profissional dentro da empresa, desde o Recrutamento e Seleção até as etapas de desenvolvimento e capacitação, ampliando ainda mais a abrangência do programa e a redução dos riscos críticos”, resume Othon Maia, diretor de Sustentabilidade e Assuntos Corporativos da AngloGold Ashanti.
Em complementação ao trabalho e para garantir ainda mais efetividade nas Verificações de Controles Críticos (VCCs), a AngloGold Ashanti implementou um sistema global no qual, durante as inspeções de campo, os supervisores e gerentes respondem a um check-list específico dentro de um aplicativo (iSIMS), pelo celular ou computador, para cada tipo de risco, facilitando a verificação sistêmica e possibilitando a análise de indicadores e da necessidade de melhorias em tempo real.
Além disso, em 2022, a empresa seguiu no processo de amadurecimento de suas práticas ESG por meio de ações concretas, como a continuidade do Projeto AngloGold Ashanti 200+, plano de desenvolvimento sustentável criado para apoiar a estruturação da estratégia ESG da empresa; e acompanhamento constante pelo Comitê ESG de todas as agendas de projetos dos âmbitos social, ambiental e de governança.
“A AngloGold Ashanti entende que na atividade de mineração, apenas as empresas que considerarem o foco e a atuação em práticas de ESG em seus processos conseguirão preservar a viabilidade financeira e a longevidade de suas operações. E tem visto um movimento maior, a cada ano, em todo o setor. Há também uma evolução dos processos de preservação de biodiversidade, recursos hídricos e geração limpa de energia”, enfatiza Maia, explicando que continuamente a empresa avança “na definição de indicadores estratégicos, compromissos e metas, que embasam todas as etapas do planejamento a longo prazo para evolução da sustentabilidade corporativa e construção de um relacionamento mais transparente com nossos stakeholders, reiterando, ainda, nosso compromisso com as principais instituições mundiais e pactos referentes à sustentabilidade, sendo signatários e participantes de diversos movimentos de alcance global”.
Análises de risco – Produção de minerais não metálicos, com soluções em areias quartzosas industriais, areias resinadas, sílica moída, calcário calcítico e dolomita comercializada junto a indústrias de fundição, vidro, cerâmicas de revestimentos, abrasivos, indústrias químicas, de energia entre outros. Esse é o negócio da Mineração Jundu desde o início de suas atividades, em 1959. Hoje, com sete unidades produtivas é joint-venture entre os grupos Sibelco e Saint Gobain, tendo finalizado 2022 com produção de 3,2 milhões de toneladas.
Nesse segmento da mineração dois processos de risco se sobressaem nas atividades minerárias: os de desmonte com explosivos nas minas de rocha para extração de calcário e moagem de sílica. Detalhando as soluções aplicadas pela empresa, Marcos Sintoni, gerente de Marketing & Vendas da Jundu, informa que, no caso do desmonte com explosivos nas minas de rocha, os riscos são mitigados através da capacitação de equipe, paios adequadamente protegidos e controle rigorosos dos desmontes. Já com relação à moagem de sílica, são feitos investimentos em tecnologia, a exemplo de sistemas de despoeiramento, salas de pressão positivas, além de monitoramento e capacitação das equipes.
“Para todos os processos foram elaboradas Análises Preliminares de Riscos (APR) e para os de maior risco foram elaboradas Análises de Risco por Tarefa (ART). Além disso, é mantido um programa contínuo de conscientização, capacitação, rotinas de inspeções de segurança, além de registros de todas as ocorrências e das condições de risco, como monitoramento”, relata Sintoni.
A essas iniciativas da mineradora, Sintoni adiciona a sustentabilidade em suas operações como forma de gerar valor para a sociedade, pois “esse é o nosso propósito. Isso é o que garante nossas atividades e a perenidade do nosso negócio, fazendo da Jundu uma marca forte e de grande reputação. Nossa ação é fundada na motivação de sermos referência no tema ESG para o setor, nossa agenda está baseada em metas de uso de energia renovável, eficiência, economia circular e recuperação ambiental, concomitantemente aos acordos globais de suas acionistas que possui metas para neutralização de carbono até 2050”.
Na Itaminas não é diferente. Fundada em 1958, em Sarzedo (MG), no começo do século XXI, iniciou uma escalada rumo ao que atualmente é conhecido pela sigla ESG. Essa visão foi intensificada no que toca a estratégia e sustentabilidade dos negócios, em 2018, com a nova liderança organizacional da empresa, com fortalecimento das ações de “melhoria das práticas de gestão e modernização de processos internos, construção de projetos de eficiência operacional e sustentabilidade do negócio além do início da jornada das práticas ESG”, sublinha André Maciel Machado, diretor Técnico e de Desenvolvimento do Negócios da mineradora.
Além de manter políticas de mitigação de riscos de saúde e de segurança claras e estruturantes direcionadas a seus funcionários nas interfaces onde homem e máquina atuam de forma integrada, como lavra, beneficiamento, transporte e carregamento de produtos, a mineradora, em 2022, definiu as matrizes de materialidade que fundamentarão suas ações em sua jornada ESG. O diretor Técnico e de Desenvolvimento do Negócio da Itaminas, lista entre as ações implementadas criação da gerência de Compliance, Canal da Ética e Código de Conduta; entendimento da pegada de carbono; consolidação e criação de novos projetos sociais; criação do Instituto Itaviva, dedicado aos projetos sociais da mineradora.
Remineralização – Mantendo forte compromisso com a mineração responsável e aplicando os princípios e práticas ESG em todas as suas atividades, a Lundin Mining – produtora de concentrado de cobre e ouro – dedica-se a proporcionar um ambiente de trabalho seguro, respeitoso e diverso. Entre as ações nessa área está uma solução que, fazendo uso dos rejeitos da atividade minerária, contribui para diminuir a dependência de fertilizantes do Brasil.
“Desde 2020, retomamos o experimento para utilizar o rejeito como remineralizador na agricultura, insumo estratégico, que contribuem para aumentar a eficiência do aproveitamento dos nutrientes, melhorar o solo e até a sua atividade biológica, promovem a economia circular e, ainda, consistem em alternativa extremamente importante para o manejo da fertilidade dos solos em sistemas orgânicos de produção”, diz Ediney Drummond, diretor-presidente da Lundin Mining, detalhando que “os ensaios contaram com apoio técnico de uma consultoria privada de pesquisa agronômica, que tem parceria com várias instituições de ensino e pesquisa como UnB, Embrapa, UFG, Unesp e IFMS. Como parte deste processo, foi realizado um plantio experimental de soja em cerca de 900 hectares, safra 2021/2022, em uma fazenda no município de Ipameri (GO)”.
“A eficiência foi aproximadamente 3% superior ao produto referência de mercado. Em janeiro recebemos o registro do Remineralizador de Solos junto ao Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento – Mapa. Os resultados obtidos atendem os valores e pilares ESG da mineradora, bem como seu sistema de gestão de Mineração Responsável (RMMS), oferecendo, ainda, a oportunidade de, com a destinação alternativa dos rejeitos, diminuir o volume armazenado na barragem, com o incentivo ao principal setor produtivo do estado de Goiás, o agronegócio”, frisa Drummond.
Logística
Mais comum para mineradoras que transportam grandes volumes – como minério ferro – as dificuldades com logística são equacionadas de formas diversas. No caso da Vale e da Anglo American, a opção foi pelo desenvolvimento de alternativas próprias.
A Anglo American, por exemplo, responde atualmente por dois negócios no Brasil: minério de ferro em Conceição do Mato Dentro e Alvorada de Minas (MG), com capacidade licenciada de produção de 29,1 milhões de toneladas por ano; e produção de ferroníquel no estado de Goiás, nos municípios de Barro Alto e Niquelândia, são as mais antigas da Anglo American no Brasil, com produção na ordem de 44 mil toneladas por ano, em mina a céu aberto. Para a unidade em Minas Gerais, como informa o CEO da empresa implementou e opera “um dos maiores minerodutos do mundo, com 529 km de extensão, passando por 33 municípios entre Minas Gerais e Rio de Janeiro, até a filtragem e a exportação no Porto do Açu (RJ), em uma operação conjunta com a Ferroport. Os empreendimentos da companhia no País têm investimentos previstos até 2027 de, aproximadamente, R$ 12 bilhões.
Já a Vale, além de ser a maior mineradora brasileira, é também a maior operadora de serviços de logística deste país, com mais de 2.000 km de malha ferroviária própria, nove terminais portuários próprios, usina, logística ferroviária e portuária no S11D, no Pará, e a Estrada de Ferro Vitória-Minas, com 905 km de extensão e mais de 60 mil hectares de áreas preservadas no Quadrilátero Ferrífero; e conta, ainda, com centros de distribuição próprios ao redor do mundo para dar suporte à entrega de minério de ferro e, diretamente, com coligadas e joint ventures, com quem mantém negócios de energia e aço.
No Rio de Janeiro, onde fica o escritório central, a Vale opera o complexo Porto Sul, na Costa Verde fluminense – composto por terminais destinados ao carregamento de minério de ferro, que totalizam capacidade de embarque para mais de 75 milhões de toneladas por ano –; os terminais da Ilha Guaíba (TIG) e da Companhia Portuária Baía de Sepetiba (CPBS); a operação do virador de vagões na Ternium, localizada no bairro de Santa Cruz, na capital carioca; e desenvolve o projeto Fazenda Marinha de monitoramento de indicadores de qualidade ambiental da Baía de Sepetiba.
O Estado do Espírito Santo mereceu, por parte da Vale, o investimento no Plano Diretor Ambiental de Tubarão (PDA), que é pioneiro na integração do sistema mina, ferrovia e porto. E mais: as operações contemplam a produção de pelotas, o que tornou a companhia referência mundial do produto. Já no Maranhão, suporta a logística de exportação da produção de minério, por meio do escoamento pela Estrada de Ferro Carajás até o Terminal Marítimo Ponta da Madeira.
A Itaminas, com atividade em lavra, beneficiamento e comercialização de minério de ferro, produzindo anualmente cerca de 6,5 milhões de toneladas, utiliza para escoamento de seus produtos os modais rodoviários e ferroviários, detendo, para tanto, terminal ferroviário próprio. Seu diretor Técnico e de Desenvolvimento do Negócio comenta a existência de desafios logísticos na interface social, “uma vez que comunidades são afetadas pelo trânsito, tornando o relacionamento mais sensível”.
Para minorar os impactos, assegurar o conforto da comunidade e aumentar a eficiência logística, a Itaminas está desenvolvendo, em caráter definitivo, um novo projeto de terminal ferroviário. Além disso, incorpora inovações tais como lavadores de pneus mais eficientes, utilização de polímeros que permitem menor emissão de particulado e rotas alternativas de menor impacto social.
Mas há empresas que não têm estrutura própria de logística para escoamento da produção, o que lhes gera dificuldades. A Jundu integra esse grupo e, como descreve Sintoni, enfrenta “desafios tanto com a infraestrutura rodoviária quanto com a ferroviária, apresentando gargalos que impactam negativamente a eficiência e encarecem o processo na totalidade”.
Como a empresa exporta majoritariamente para Chile e Argentina atendendo indústrias de fundição e vidro, é também afetada pela dinâmica dos portos, “que representa outro obstáculo significativo. As dificuldades operacionais e burocráticas em operar com nossos produtos afeta a viabilidade das exportações, a agilidade e eficácia do processo. Esses entraves dificultam uma maior inserção da Jundu no mercado internacional. É necessário investimento em infraestrutura de transporte rodoviário e ferroviário”, pede Sintoni.
A logística da Jundu dentro do Brasil é 100% via transporte rodoviário e, no caso das exportações, pode acontecer um modal misto rodoviário e marítimo. A mineradora – segundo informações de seu gerente de Marketing & Vendas – “recentemente iniciou um projeto-piloto para viabilizar o transporte ferroviário. Os primeiros testes foram positivos, mas há necessidade de esforço das empresas, articulação e investimentos do governo e concessionárias para que os terminais estejam aptos a operar com nossos produtos. Acreditamos muito nessa via haja vista as necessidades de redução das emissões de CO2”.
Sintoni, ao falar sobre o transporte ferroviário, além de solicitar a ampliação da malha ferroviária, frisa a necessidade de “as soluções passarem por uma maior integração entre as concessionárias, investimentos para adequação dos terminais de carga, tornando-os aptos a operar com nossos produtos, haja vista que são especializados em transporte de minérios de ferro, aço e grãos em sua grande maioria”.
No caso da Pedras Congonhas, o custo elevado da logística para exportação – a empresa utiliza transporte rodoviário até o porto – quase anula a competitividade do produto no mercado internacional – enfatiza Ottavio Raul Domenico Riberti Carmignano – sócio-gerente da mineradora de Nova Lima (MG), ao exemplificar: “Nossa empresa exporta atualmente para um país; poderia acessar outros mercados, mas o custo logístico acaba tornando nosso produto pouco competitivo para a maioria dos mercados internacionais”.
Investimentos
“Trabalhar no presente para construir um futuro ainda mais sustentável. Este é um caminho sem volta, no qual as práticas sustentáveis precisam, cada vez mais, ser adotadas em sua integridade, de forma constante, consciente e responsável, como parte do propósito das organizações, e em conexão aos objetivos e aos valores que dão sustentação à perenidade dos negócios”, afirma Bruijn.
Na Anglo American, entre os projetos desenvolvidos e em andamento, seu CEO destaca “uma iniciativa piloto de aproveitamento de escória de ferroníquel, que visa à utilização deste material para a pavimentação de rodovias em Goiás. Além de trazer ganhos ambientais, esse projeto incentiva a economia circular, na qual os resíduos de uma indústria servem de matéria-prima para outra atividade econômica. A expectativa é destinar 500 mil toneladas de escória nos próximos dois anos, com potencial de aplicação de 100% do material para construção de rodovias e ferrovias, até 2026”.
Em relação ao negócio de minério de ferro, as inovações que a Anglo American incorporou aos processos, segundo Bruijn, conduziram à produção de “um minério premium, com alto teor de ferro (cerca de 67%) e baixo índice de contaminantes, muito demandado pelas siderúrgicas asiáticas por diminuir o nível de poluentes da produção de aço”. Essa iniciativa pode ser entendida como complementar ao propósito de reimaginar a mineração para melhorar a vida das pessoas, pois, para isso, “a Anglo American se aprofunda cada vez mais nas práticas ESG”.
Os investimentos da Itaminas objetivando mais eficiência e segurança operacional, em alinhamento com as práticas ESG, exigiram muita aplicação de tecnologias, o que leva Machado a definir a mineradora como “pioneira entre as empresas de médio porte na utilização de tecnologias de processo”. A caminhada é assim descrita por Machado: “Em 2002, a Itaminas iniciou a utilização de concentração magnética de médio campo para o processamento de pilhas e finos de minério, realizando assim sua ‘segunda safra’ mineral. No ano de 2005, em parceria com a Gaustec, passou a utilizar concentradores magnéticos de alta intensidade no auxílio à recuperação de barragens e geração de pellet feed. Essa é considerada a ‘terceira safra’ mineral da Itaminas. No ano de 2020, a implantação da filtragem de rejeitos da Itaminas contribuiu para o fim da utilização do uso de barragens de rejeitos na mineração. Hoje, o processo está maduro e ganhou diversos prêmios de eficiência e sustentabilidade ambiental”.
Dando sua contribuição para redução das emissões de CO2, a Jundu, em suas operações, está “investindo fortemente em tecnologia para aumentar a eficiência produtiva. São equipamentos móveis de maior porte e motores elétricos, entre outras iniciativas”, conta seu gerente.
A incorporação de tecnologias avançadas, como sistemas de automação, inteligência artificial e análise de dados, também estão no radar da Jundu, devido, principalmente, a ganhos em eficiência operacional, possibilitando otimizar processos e reduzir custos na mineração. Frente a esses benefícios, Sintoni garante: “É nisso que investimos atualmente. Além disso, o cumprimento rigoroso das leis e regulamentações é fundamental para o setor. As empresas devem estar consoantes com as normas ambientais, trabalhistas e de segurança, garantindo uma operação responsável e ética por igual nesse setor”.
Longevidade – Computando 189 anos de operação em terras brasileiras, a partir de Nova Lima (MG), a AngloGold Ashanti é a indústria de maior longevidade no País e está entre as maiores mineradoras de ouro do mundo. O diretor de Sustentabilidade e Assuntos Corporativos da AngloGold Ashanti situa a empresa como “a única do país com a cadeia produtiva completa, incluindo as etapas de pesquisa, desenvolvimento, extração, metalurgia, fundição e refino; e também a única que destina parte da produção à fabricação de joias comercializadas no mercado interno ao atuar como fornecedora da Vivara”.
Comemorando os resultados em 2022, quando as operações no Brasil produziram 12,5 toneladas de ouro, o que corresponde a 14,5% da produção global do grupo, Maia lembra que, nesses quase 200 anos, mais do que fazer parte da história mineira (tanto do estado quanto da atividade), a mineradora esteve à frente de uma série de inovações na indústria mineral, acompanhando e sendo pioneira no desenvolvimento tecnológico para a mineração, pelos equipamentos e processos utilizados e pelo desenvolvimento de soluções de engenharia para a atividade de mineração no subsolo.
Com sete minas subterrâneas e duas a céu aberto e plantas metalúrgicas e de beneficiamento nos Estados de Minas Gerais e Goiás, a empresa – declara Maia – “está entre as mais avançadas do mundo no campo da alta tecnologia em mineração. A AngloGold Ashanti foi a primeira mineradora a utilizar a telemetria no subsolo, um sistema de monitoramento remoto de equipamentos, prevendo a necessidade de manutenção de máquinas antes que qualquer problema possa ocorrer. Outros exemplos são detonação a distância via wi-fi; perfuração autônoma sem necessidade de mão de obra em subsolo; rompedor hidráulico operado por joystick (Hammer); carregadeira semiautônoma; sistemas inteligentes de ventilação; ore sorting (segregação por meio de raio-x e laser); tecnologias 3D; equipamentos de sonda de altíssimo nível, entre outras”.
Eficiência pela inovação – Tecnologias de extração e melhorias operacionais são os focos de investimento da Kinross, mineradora de ouro presente no Brasil, desde 2005, nas atividades de pesquisa e desenvolvimento mineral, mineração, beneficiamento e comercialização do metal, em operação localizada na mina Morro do Ouro, em Paracatu (MG), onde produziu, em 2022, o total de 577,4 mil onças (oz), equivalente a 17,9 toneladas, que correspondeu a 22% da produção nacional desse metal.
“Uma das formas de tornar a mineração cada vez mais eficiente é por meio do investimento em tecnologias inovadoras de extração e na melhoria operacional que contribuam, não somente no aumento da produtividade, mas também na redução dos impactos socioambientais”, informa Rodrigo Gomides, vice-presidente de Operação e gerente-geral adjunto da Kinross no Brasil. Como exemplo, cita investimento em prol da “melhoria no processo produtivo buscando aumentar a recuperação de ouro na planta em Paracatu (MG), por meio de duas iniciativas atualmente em andamento”. São os projetos PET2 Expansion e Projeto Gravity.
O PET2 Expansion, como esclarece Gomides, compreende a expansão do “projeto de reprocessamento de rejeitos de uma de suas barragens, com o objetivo de dobrar a capacidade de bombeamento de rejeitos visando a recuperar parte do ouro que fora perdido no processo. A expectativa é alcançar cerca de 500 toneladas por hora, acrescendo cerca de 5,6 mil onças de ouro (oz) na produção anual da planta a um baixo custo operacional. Para isso, foram instaladas uma nova balsa, duas estações de bombeamento e 2,2 mil metros de tubulação de polietileno de alta densidade (PEAD). O investimento total para essa expansão está estimado em US$ 10,3 milhões”.
Por sua vez, o Gravity, objetiva “aumentar a recuperação global de ouro no processo por meio da instalação de concentradores Knelson para recuperação de ouro gravítico na carga circulante do circuito de moagem das Plantas 1 e 2 da Kinross. Com isso, a previsão é aumentar a produção em 20 mil onças de ouro (oz) por ano, a um custo incremental relativamente baixo”, comenta Gomides, detalhando que, “para alcançar esse resultado, serão instalados cinco novos concentradores centrífugos e um reator de lixiviação intensiva, a partir do investimento de aproximadamente US$ 30 milhões. Esse novo circuito de recuperação já está sendo implantado e tem previsão de funcionamento no segundo trimestre de 2024”.
A participação e o acesso do Brasil a diversas evoluções tecnológicas e avanços no processamento, “sem restrições significativas”, é frisado pelo gerente de Marketing & Vendas da Jundu. “E essas tecnologias estão amplamente disponíveis para empresas e instituições interessadas em utilizá-las para impulsionar a inovação e o crescimento. Para maior avanço, acreditamos que novas e maiores fontes de financiamento e programas de fomento podem impulsionar projetos relacionados a novas tecnologias, indústria 4.0 e inovação no geral”, reivindica o executivo.
Pesquisa e inovação – “Em termos de tecnologia, estamos desenvolvendo há alguns anos uma rota tecnológica para a geração de produtos de alto valor agregado e com baixa pegada de carbono. Nosso projeto foi aprovado pela FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos), e em breve receberemos recursos para a implementação de uma planta-piloto para o início das atividades produtivas”, comemora o sócio-gerente da Pedras Congonhas reivindicando “políticas públicas de incentivo à inovação para empresas mineradoras de médio porte para ampliar a pesquisa e desenvolvimento de novos produtos e processos”.
Essa solicitação de Carmignano remete a experiências vivenciadas no passado e que abriram novos mercados de atuação. A primeira aconteceu no início da operação dessa mineradora fundada em 1971 e inicialmente dedicada ao mercado de rochas ornamentais: “Atenta a oportunidades de mercado, a empresa desenvolveu a primeira alternativa de fundente para siderúrgicas integradas a partir de rochas silicatadas, com maiores teores de oxido de magnésio e baixíssimos teores de oxido de cálcio, em um produto que não emite CO2”.
No final da década de 1990, – prossegue Carmignano – “a Congonhas desenvolveu produtos para o mercado da construção civil e da pavimentação de estradas e, na década seguinte, através de parcerias firmadas com universidades e centros de pesquisa, desenvolveu produtos de maior valor agregado na área de minerais industriais, época em que obteve sua primeira patente. A seguir, em parceria com a Embrapa, desenvolveu um fertilizante mineral, voltado para o agronegócio”.
E a inovação incorporou-se à empresa, que investiu em certificação ISO para todos seus produtos. Atualmente, participa de projeto de pesquisa e desenvolvimento em conjunto com a Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG e a ABO University, da Finlândia, para o desenvolvimento de produtos de elevada pureza. “Este projeto foi contemplado pela FINEP em seu programa Mineração e Desenvolvimento”, comemora o empresário.
Tendo como base a experiência da Pedras Congonhas, seu executivo é enfático ao afirmar: “Para que a mineração brasileira seja mais eficiente seriam necessárias políticas públicas voltadas para empresas de pequeno e médio porte, de modo a estimular e fomentar a pesquisa e o desenvolvimento de inovações”. E noticia: “A mineradora trabalha com rocha serpentinito, movimentando anualmente 500 mil toneladas, e está em fase final de desenvolvimento da nova jazida composta por quartzo, quartzito, filito e minério de ferro”.
Transição energética – A Alcoa vem ampliando o aporte de recursos em transição energética e, consequentemente, na redução das emissões de gases de efeito estufa com a ambição de chegar a Net Zero em 2050 (considerando os escopos 1 e 2 nas etapas de Refinaria e Smelter).
Nos últimos dois anos, promoveu o religamento do Smelter da Alumar, utilizando contratos de compra de energia com lastro 100% renovável. Já em 2023 anunciou a transição energética em Juruti (PA) de diesel para energia elétrica, o que vai reduzir as emissões de carbono do escopo 1 em 35%. Em paralelo, a unidade de Poços de Caldas é atualmente a Refinaria com a menor emissão de carbono/tonelada de alumina produzida entre todas as operações da Alcoa no mundo.
“Acreditamos na reinvenção da indústria do alumínio para um futuro mais sustentável, com respeito às pessoas e ao meio ambiente. Ao mesmo tempo em que ampliamos investimentos em transição energética para descarbonizar os nossos produtos, também impulsionamos o desenvolvimento social e econômico das comunidades do entorno das nossas operações. Trabalhamos para transformar potencial em progresso verdadeiro”, destaca a diretora regional de Meio Ambiente da Alcoa.
Um exemplo citado pela diretora Regional de Meio Ambiente da Alcoa envolve a conclusão da Agenda Positiva de Juruti (PA), iniciada em 2009 e que já mereceu investimento de R$ 74 milhões. “Para dar continuidade a esse investimento voluntário, estamos planejando a Agenda Juruti +10, em conjunto com o poder público e a sociedade civil”, conclui Thaíza Bissacot.
Fazendo um balanço da mineração de ferro e olhando o próprio universo, o diretor Técnico e de Desenvolvimento do Negócio da Itaminas entende que, em mineradoras de médio porte, a tecnologia “tem avançado mais lentamente em processos de lavra e processamento. Todavia, do ponto de vista de disposição de rejeitos, dado o contexto de mudança imposto pelas normas de utilização de barragens, avanços diversos ocorreram desde a implantação de sistemas de filtragem até a forma de empilhamento de rejeito. Em sentido amplo, a modernização de processos com controles automatizados é a nova fronteira para máximo controle operacional que leve inclusive a mais inovação”.
Eduardo De Come – CEO da Ero Cooper, empresa que opera apenas no Brasil, com cobre e ouro e, brevemente, dará início à produção de níquel – detecta que “estamos ainda um passo atrás, porque a lavra em mina subterrânea tem características muito específicas”. Destaca, no entanto, que a mineradora utiliza equipamentos autônomos na mudança de turno: “Operamos 24 horas, com quatro turnos, e como a mina atinge profundidade de até 1.500 metros, leva-se 2h30 para descer e subir. Para não interromper a produção nesses momentos, contamos com uma pequena frota”. Para reduzir esse intervalo, na mina do Vale do Curaçá (BA), está investindo US$ 400 milhões em um shaft que fará o trajeto em apenas 8 minutos.
Pesquisa mineral também é investimento permanente da Ero Cooper, “temos 25 sondas furando a área da reserva minerária da Bahia, tentando identificar novas reservas. Foi assim que detectamos níquel. Toda essa atividade demanda investimentos permanentes que, no caso desta mineradora, está na casa dos US$ 50 milhões por ano”, garante De Come.
Relacionamento com comunidades
Todas essas ações desenvolvidas por tantas empresas comprovam valores da atividade minerária ainda pouco percebidos pelas pessoas, assim descritos por Bruijn: “A sociedade moderna enseja que a indústria mineral contribua cada vez mais para um desenvolvimento socioeconômico sustentável, levando em consideração todos os impactos que ela pode gerar. O entendimento de que as políticas sustentáveis devem estar presentes nas decisões estratégicas das empresas aumentam a cada ano e, diante desse cenário, a inovação ganha força, como protagonista da transformação do setor. Com isso, a lembrança de que a mineração é uma atividade arcaica e rudimentar tem dado lugar à visão de uma indústria atenta a novas tecnologias, visando a processos produtivos mais eficazes e seguros, melhores relações com as comunidades anfitriãs e, sobretudo, mais responsabilidade com a preservação ambiental”.
Entendendo que toda empresa tem um papel educativo e que seus empreendimentos no Brasil, onde está presente há 50 anos, são ativos estratégicos, de longo prazo, e extremamente relevantes para todo o grupo, representando entre 15% e 18% do resultado global da empresa, a Anglo American implantou o Plano de Mineração Sustentável que inclui, entre suas metas, “o estabelecimento de parcerias para melhorias nos sistemas de educação e de saúde das comunidades que acolhem nossas operações; ações de inclusão e diversidade; fortalecimento dos mecanismos de transparência e integridade; foco na redução da emissão de gases do efeito estufa nas plantas operacionais (com previsão de sermos neutros em carbono até 2040); aproveitamento e gestão inteligente dos recursos hídricos utilizados na mineração; entre diversos outros aspectos”, enumera seu CEO, Wilfred Bruijn.
O relacionamento com grupos internos e externos à mineradora é constante. No âmbito dos empregados, a companhia, “é uma das primeiras mineradoras no mundo a constituir uma área específica para lidar com a inclusão, diversidade e questões relacionadas à saúde mental. Estas ações fazem parte do nosso planejamento estratégico para a consolidação de uma cultura alinhada às necessidades da sociedade atual.
Fazemos também a gestão de grupos de trabalho que discutem as questões ligadas a esta importante agenda”, conta Bruijn, comentando que a mineradora fomenta comunidades verdadeiramente prósperas que perdurem e prosperem muito além da vida útil da mina. Há, ainda, projetos dedicados especificamente aos grupos minorizados, como mulheres, e iniciativas voltadas à diversidade, como Política de Integridade Empresarial, Política de Inclusão e Diversidade, Política Contra a Violência Doméstica e Política Contra Bullying, Assédio e Retaliação.
Na opinião de Drummond, há desafios relacionados à segurança e ao gerenciamento de riscos durante a movimentação dos recursos minerais desde as minas até os pontos de processamento e distribuição, quando encontrados em regiões remotas ou politicamente instáveis, o que torna a logística ainda mais complexa. Como exemplo, cita a presença de comunidades indígenas em áreas de interesse, podendo resultar em atrasos e impasses nos projetos de mineração. A solução, para ele, envolve “garantir o respeito aos direitos das populações indígenas e buscar um diálogo efetivo, visando a conciliar as necessidades da indústria mineral com a proteção dos interesses dessas comunidades e o cumprimento da legislação vigente”.
Desafio também é a palavra utilizada por De Come quando o tema é relacionamento com as comunidades no entorno das instalações minerárias, principalmente quando envolve o fechamento de uma mina. “A questão é sempre como fazer a recuperação ambiental, mas não podemos esquecer que com a paralisação da mina, as comunidades serão afetadas por uma queda natural na comercialização. Isso tem de estar previsto desde o projeto da mina e em paralelo precisamos buscar a vocação da comunidade para gerar renda e trabalho, em atividades mais perenes do que a minerária”.
No caso da Ero Cooper, na Bahia, entre as atividades desenvolvidas destaca-se projeto iniciado em 2014, com criação de cabras, construção de laticínios e criação de suas cooperativas de produtores que se desenvolveram e em 2017 reuniam mais de 250 produtores. A atividade evoluiu e os dois laticínios Mãos do Campo e Sabor do Sertão passaram a ser representados pela marca Capribéee, que já obteve vários prêmios. O mais recente, em julho de 2023, no VI Prêmio Queijo Brasil, de Blumenau (SC), reconheceu a qualidade do queijo de leite de cabra tipo Boursin com a medalha de ouro; dos queijos de leite de cabra tipo Chevrotin e Capela, com a medalha de prata; e do queijo tipo Buchette Carvão Vegetal, com a medalha de bronze.