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A mineração a serviço da transição energética

O setor de mineração tem respostas para os desafios de um mundo com o futuro caracterizado por economia de baixo carbono, de energia limpa e renovável, inclusive dando sua contribuição direta, afinal a indústria mineral preserva pelo menos o dobro das áreas utilizadas nas extrações. A mineração industrial, segundo o governo, ocupa uma área equivalente a 0,06% do território nacional; já dados do projeto MapBiomas indicam que, em 2022, esse setor desenvolvia atividades em uma parcela de 0,02% do território nacional, ou 169,8 mil hectares, de um total de 851,6 milhões de hectares.

Relatórios do Banco Mundial sinalizam que para o cenário de aumento de 2ºC na temperatura média do planeta, haverá a necessidade de aproximadamente 3 bilhões de toneladas de minerais até 2050 para mitigação dos efeitos desse aumento, ou seja, o investimento nas matrizes de geração renovável, na intenção de viabilizar a implementação das transformações dentro do prazo esperado, precede substancial investimento em insumos de base e depende da implantação de aparato adequado em um período mais do que limitado.

Julio Nery, diretor de Sustentabilidade e Assuntos Regulatórios do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), explica os critérios que definem se um mineral é ou não estratégico, ou crítico como são nomeados em alguns países da Europa e nos Estados Unidos e Canadá: “Ele deve ser um bem mineral do qual o País dependa de importação em alto percentual para o suprimento de setores vitais da economia; bem mineral que tenha importância pela sua aplicação em produtos e processos de alta tecnologia; ou bem mineral que detenha vantagens comparativas e que seja essencial para a economia pela geração de superávit da balança comercial do País”. Isso foi definido pela Resolução Nº 2 de 18 de junho de 2021, da ANM, que apresenta a lista de 28 bens minerais, divididos em 3 grupos, conforme os critérios acima mencionados.

Esses minerais são cruciais para a forma como a energia é gerada, transportada, armazenada e utilizada. Nessa transição, que afeta significativamente os meios de transporte movidos a combustível fóssil, a eletrificação é alternativa projetada, mas um automóvel elétrico requer seis vezes mais insumos minerais do que um modelo convencional. Segundo estimativas da International Energy Agency (IEA, na sigla em inglês), a demanda por lítio deverá crescer 40 vezes até 2040 e a demanda por cobalto, grafite e níquel entre 20 e 25 vezes até 2040.

O total dos minerais estratégicos em terras brasileiras corresponde a 98,6% da produção mineral comercializada. A alta produtividade é totalmente justificável. Afinal, qualquer objeto metálico, seja um simples recipiente até o mais complexo instrumento científico, tem por base estrutural o uso de algum tipo desses minérios.

Juntos, podem colocar o País em situação de destaque no cenário mundial. Para isso, como frisa Nery, desafios precisam ser vencidos para que as oportunidades se concretizem: “Investimentos adequados em ciência e tecnologia têm sido o grande entrave para o desenvolvimento da extração mineral sustentável no País, assim como a capacitação técnica e uma política regulatória clara”.

Nery cobra também mecanismos para desenvolver, de forma efetiva, o conhecimento geológico brasileiro. “A mineração trabalha com uma escala adequada do mapa. Atualmente, apenas 3% do País é mapeado em uma escala de 1:50.000 e cerca de 26% do território são conhecidos geologicamente na escala de 1: 100.000”, explica e ressalta que “mesmo utilizando pequena parcela do território, temos conseguido uma rentabilidade importante para o nosso país. Em 2022, tivemos um saldo mineral equivalente a 49% do saldo comercial brasileiro. Para avançar são necessários melhores mecanismos de financiamentos brasileiros para obter mais investimentos em pesquisa mineral e efetivamente o Brasil aproveitar essa janela de oportunidades desse mercado de transição energética”.

O Brasil possui muitos desses minerais em seu território. A mineração é atividade vital na economia, proporciona qualidade de vida, perspectivas econômico-financeiras rentáveis e uma série de benefícios à coletividade, inclusive entre aquelas localizadas no entorno das áreas mineradas, como geração de empregos, divisas ou arrecadação de tributos. A considerada “mineração verde”, com uso de fontes energéticas renováveis e a aplicação de alternativas de infraestruturas que reduzem riscos ambientais e sociais, cada vez mais é algo que deve ser não apenas almejado, mas concretizado.

Desse modo, o Brasil tem todo o potencial para ser referencial em produção e fornecimento de minerais críticos, inclusive legislação, capacitação técnica e tecnologia de ponta.

Evolução da legislação

Em termos de legislação, por exemplo, no início de agosto de 2022, entrou em vigor a Resolução nº 94, da Agência Nacional de Mineração (ANM) – publicada em 8 de fevereiro de 2022 – que disciplina sobre a classificação de recursos e reservas minerais segundo padrões internacionalmente aceitos, ampliando a transparência do setor mineral brasileiro e melhor alinhando as práticas nacionais às internacionais. Tais medidas afetam positivamente as empresas de mineração, independentemente do porte, que tenham investidores ou financiadores estrangeiros.

Com as novas regras, foi eliminada a duplicidade de reportes de recursos e reservas, sobretudo por parte de empresas que devem reportar internacionalmente seus projetos. Essas novas medidas contribuem para uma maior transparência e aprimoramento da governança do setor mineral brasileiro.

Segundo essa Resolução, o Sistema Brasileiro de Recursos e Reservas Minerais (SBRR) compreende o conjunto de normas e procedimentos para gestão das informações relativas aos recursos e reservas minerais, sendo alimentado com informações apresentadas em documentos técnicos pelas empresas do setor, sejam estes vinculados aos processos de direitos minerários ou às declarações públicas submetidas à ANM.

Para fins do disposto nessa nova resolução, foram estabelecidos conceitos como potencial exploratório, recurso mineral – o qual pode ser inferido, indicado e medido –, reserva mineral, podendo ser provável e provada, e fatores modificadores. Essas nomenclaturas refletem padrões internacionais reconhecidos, de maneira que foram eliminadas as assimetrias. Anteriormente, as normas setoriais brasileiras tratavam apenas de reservas e, ainda, classificavam-nas como medidas, indicadas e inferidas, o que revelava descompasso com a prática internacional do setor.

Protagonismo em construção

Entre os minerais de maior destaque em discussões relacionadas ao tema de minerais estratégicos ou críticos – como lítio, terras-raras, níquel, cobre, zinco, entre outros igualmente necessários à produção de outros componentes – estão aqueles direcionados à produção de baterias, pás eólicas, placas solares e condutores, fundamentais à implementação de projetos de energia renovável.

Um total de 45% do PIB mundial está, direta ou indiretamente, vinculado às atividades da mineração. O Brasil tem ocupado uma posição de destaque neste cenário global, tanto em produção quanto em reservas. Este protagonismo brasileiro está lastreado no potencial e na diversidade geológica do território nacional e em investimentos em infraestrutura, talentos e tecnologia.

O potencial mineral brasileiro – um dos maiores do mundo – também é comprovado pela Agência Nacional de Mineração (ANM) ao apontar a existência de rica variedade de minérios ainda passíveis de serem explorados. Entre os disponíveis em território nacional, aqueles que são mais explorados – alumínio, cobre, estanho, ferro, manganês, nióbio, lítio, níquel e ouro – correspondem a 82,5% do valor de toda a produção mineral brasileira.

Na visão do CEO da Anglo American, Wilfred Bruijn, chegou a hora de mostrar cada vez mais a importância de tudo o que se produz no setor: “Para sermos um campo de referência, precisamos transformar a mineração diariamente”. Bruijn conta que a Anglo American busca alcançar essa transformação guiada pelo propósito de reimaginar a vida das pessoas e “conduzida pelas metas e objetivos do nosso Plano de Mineração Sustentável”.

Estimativas da IEA mostram que a demanda por lítio deve crescer 40 vezes até 2040, acompanhada pela demanda por cobalto, grafite e níquel, entre 20 e 25 vezes, até 2040. Portanto, a presença destes minerais em terras brasileiras eleva o enorme potencial do Brasil, neste segmento. No entanto, investimentos adequados em ciência e tecnologia, capacitação técnica de mão de obra e aperfeiçoamentos regulatórios têm limitado o desenvolvimento no País.

Edificando a escalada ao topo dos fornecedores globais, a mineração conta com atores reconhecidos mundialmente, tecnologia de ponta, espírito inovador e muito a ser trabalhado.

Lítio e suas dimensões

O lítio ingressa na esteira da transição energética, sendo um dos principais insumos para a fabricação de baterias. Esse fator dimensiona o crescimento da exploração, no Brasil. A necessidade desse mineral na eletrificação anexou ao nome o título de “ouro branco”, ou seja, um mineral com papel fundamental na transição para um futuro com economia de baixo carbono.

A abundância do lítio, em determinadas regiões brasileiras, vem atraindo empresas que buscam uma mineração sustentável, com processos sem rejeitos, água tratada em estação própria e sem a presença de produtos químicos que afetem o meio ambiente.

A Sigma Lithium anunciou, em abril de 2023, o início da exploração de lítio, no Vale do Jequitinhonha (MG). O projeto conta com investimentos de R$ 3 bilhões, sendo R$ 1 bilhão, já aportado ao longo do mesmo ano. A projeção da empresa aponta que a região receberá R$ 2,5 bilhões em royalties, ao longo de 13 anos de atividade. A mina, chamada de Grota do Cirilo, está localizada entre os municípios de Itinga e Araçuaí, com capacidade para produzir, inicialmente, 277 mil toneladas por ano. A segunda fase do empreendimento, já em andamento e com conclusão prevista para 2024, aumenta a capacidade para 44 mil toneladas ao ano. O escoamento da produção ocorrerá pelo Porto de Vitória (ES).

Em paralelo, a Companhia Brasileira de Lítio (CBL), com sede administrativa em São Paulo (SP), desenvolve o uso do mineral na aplicação de energia nuclear e, principalmente, na eletrificação veicular, sendo a única verticalizada, neste segmento. A empresa iniciou, há cerca de cinco anos, um convênio de pesquisas na rota de projetos nucleares no Brasil, junto com o Instituto de Pesquisas e Energia Nuclear (IPEN), subordinado ao Ministério de Ciência e Tecnologia, para produzir os isótopos no Brasil, para o mercado brasileiro se tornar independente e adquirir o status de exportador. As usinas de Angra 1 e 2 são importadoras regulares do isótopo nuclear de lítio-7, utilizado no controle térmico dos reatores de fissão nuclear. Apesar de 90% do montante da extração mineral de lítio ser canalizado para a mobilidade elétrica, a empresa acredita e investe na aplicação nuclear. Para a pesquisa, a companhia assumiu 100% dos investimentos.

Na visão de Vinícius Alvarenga, CEO da CBL, “é relevante que o Brasil adquira independência na área, sendo estratégico ao País dominío completo dos materiais essenciais à geração de energia nuclear”.

A AMG Brasil, subsidiária do grupo holandês AMG Critical Materials N.V. , opera no Brasil com a Unidade Minerais Críticos, localizada nas cidades de Nazareno e São Tiago; e a Unidade Materiais Especiais e Usina Hidrelétrica, ambas em São João del-Rei, além de um escritório administrativo, em Nova Lima, todos no Estado de Minas Gerais. A receita bruta da empresa alcançou, em 2022, um total de R$ 2 bilhões, já com projeção de crescimento com investimentos da ordem de R$1,5 bilhão, até 2026.

Para a AMG, desenvolver produtos com melhor eficiência, aproveitamento dos recursos minerais e que auxiliam na redução de CO2 não são apenas estratégias de respeito ao meio ambiente e ao mercado.

Seus esforços e investimentos em pesquisas, tecnologia e inovação colaboram na transformação de um mundo, sem dúvida, cada vez melhor. “Não contribuímos somente com a melhoria da qualidade de vida daqueles que usam os produtos baseados em nossos insumos. É nosso desejo ampliar o desenvolvimento das regiões onde estamos presentes, gerando um ciclo de benefícios para diferentes setores”, explica o CEO da AMG Brasil, Fabiano Costa.

O grande potencial do níquel

O níquel também é listado ao lado de outros minerais críticos disponíveis em jazidas brasileiras. Para o diretor de Exploração e Projetos Minerais da Vale, Edson Ribeiro, o Brasil é um dos poucos países do mundo com capacidade para produzir todos os minerais estratégicos. “O Brasil pode não ser um líder mundial na produção, mas se posiciona como um produtor confiável”, argumenta o executivo.

O relatório do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP), divulgado, divulgado em 2021, estima que o níquel poderá ter demanda entre 20 e 25 vezes maior, na comparação com o mercado atual, em 2040. E o Brasil tem reservas minerais suficientes para suprir o crescimento esperado. A agência norte-americana calcula que a geração eólica offshore necessita 13 vezes mais recursos minerais que uma planta a gás com capacidade similar de produção.

Por volta de 65% do níquel consumido são empregados na fabricação de aço inoxidável e cerca de 12% direcionam-se à produção de superligas de níquel. Por fim, 23% dividem-se na produção de outras ligas metálicas, baterias recarregáveis, cunhagens de moedas, entre outras aplicações. Segundo a ANM, a Anglo American é responsável por quase 60% da extração brasileira de níquel. Os principais estados produtores de níquel são Goiás, Pará, Minas Gerais, Piauí e Bahia.

Em 2023, a Anglo American, empresa que tem sua origem na África do Sul e atualmente conta com operações em seis continentes, completa 50 anos no Brasil. A companhia, além da produção de minério de ferro em Conceição do Mato Dentro e Alvorada de Minas (MG), produz ferroníquel em Barro Alto e Niquelândia, ambas em Goiás. Juntos, esses negócios geram cerca de 12 mil empregos, entre diretos e terceiros, com investimentos no País da ordem de R$ 12 bilhões, previstos até 2027.

As operações de ferroníquel, em Goiás, são as mais antigas da Anglo American no Brasil, configurando produção bastante estável, com cerca de 44 mil toneladas por ano.

Grafita na tomada de decisões

O Brasil é o quarto maior produtor de grafita do mundo e o terceiro em reservas, segundo dados apresentados pelo United States Geological Survey (USGS). O Brasil tem a oportunidade de ser internacionalmente competitivo e pode desenvolver vasta carteira de produtos, com aplicação em diversos setores da economia nacional e mundial, o que requer significativa experiência da equipe de operação de mina, incluindo o beneficiamento para obtenção de diversos produtos com diferentes características físico-químicas.

Hoje, a mineração de grafita acompanha a tomada de decisão para investimentos, sem a certeza quanto aos deferimentos de licenciamentos ambientais e com mudanças constantes na legislação mineral.

Maior produção de nióbio do mundo

Maior produtor mundial de nióbio, o Brasil detém cerca de 90% do mercado. A produção do nióbio é complexa, partindo do pirocloro ou outros minérios – como columbita, tantalita etc. São necessárias mais de 160 etapas químicas e metalúrgicas para obter os derivados de nióbio comercializados: ferronióbio, óxido de nióbio, nióbio metálico e ligas de grau vácuo.

Além das reservas brasileiras, existem mais de 85 depósitos de minérios que podem servir como base para a produção do nióbio, em locais como Rússia, Canadá, Groenlândia, Angola, Gabão, Quênia, Estados Unidos da América, China, Arábia Saudita, Austrália, Tanzânia, República Democrática do Congo, Finlândia, Maláui, Noruega, África do Sul, Zâmbia, Namíbia, Índia, Espanha e outros. Ou seja, não é um mineral raro, mas sim um elemento que vem ganhando muita importância rapidamente, e, na maioria desses países, a legislação para outorga de lavra tem exigências semelhantes à dos agentes reguladores brasileiros.

Setores estratégicos para a economia global apoiam-se, cada vez mais, no uso do nióbio para desenvolver produtos compatíveis com as necessidades do futuro e alinhados às megatendências globais de eletrificação, mobilidade, urbanização, sustentabilidade e transformação digital. É também um material que faz parte da infraestrutura das cidades, tornando-as mais inteligentes, possibilitando construções mais eficientes, mais seguras, duráveis e com menos desperdício de materiais. Além disso, o uso de nióbio no aço favorece a desmaterialização, com redução de até 20% no uso de matérias-primas e, consecutivamente, gera impacto ambiental positivo em toda a cadeia produtiva.

O uso do nióbio amplifica a resistência e a segurança das estruturas automotivas, além de tornar os veículos até 20% mais leves, resultando em menor consumo de combustíveis e, consequentemente, na redução da emissão de gases poluentes. Esse mineral contribui para inúmeros avanços tecnológicos e tem papel central na transição energética mundial, uma vez que possibilita o desenvolvimento de estruturas e tubulações com maior resistência, tenacidade e segurança para o transporte de combustíveis.

Há mais de 60 anos, a CBMM investe no desenvolvimento desse mercado, fomentando novas tecnologias e aplicações nos mais diversos segmentos: energia, automotivo, infraestrutura, aeroespacial etc. Essa postura coloca a mineradora em destaque global na produção e comercialização de produtos industrializados de nióbio.

Na frente de mobilidade elétrica, a CBMM conta com mais de 40 projetos em parcerias com universidades e institutos de pesquisa em todo o mundo, para desenvolver tecnologias com óxido de nióbio para baterias de íons de lítio. Passou a representar uma verdadeira revolução para o setor, diante das novas baterias que oferecem um tempo de recarga inferior a 10 minutos, além de mais estabilidade, menor risco de explosão e maior vida útil. As primeiras baterias com óxido de nióbio já estão disponíveis para o segmento de micromobilidade, especialmente no sudeste asiático. Os desenvolvimentos para baterias de recarga ultrarrápida começam a ser testados por algumas montadoras e devem estar disponíveis para o mercado ainda em 2023.

Outra aplicação relevante do nióbio é na forma de nanocristal, resultando em material com elevada permeabilidade magnética e baixas perdas energéticas, quando comparado com outros materiais similares. O nanocristal é atualmente a melhor solução para os diversos circuitos eletroeletrônicos, que vão de sistemas fotovoltaicos até geladeiras e aparelhos de micro-ondas.

Outro ator nesse cenário é a CMOC Brasil, que se posiciona como a segunda maior produtora mundial de nióbio. Como detalha Daniel Gonçalves – gerente de Operação de Planta Nióbio – “a produção é realizada por meio de complexas operações unitárias. Assim, as etapas de beneficiamento e metalurgia constituem-se as fases mais importantes do processo produtivo. A heterogeneidade do corpo mineral composto por diversos elementos consiste em um desafio adicional da operação”.

No caso específico da CMOC – garante Gonçalves – a empresa “trabalha com um rigoroso controle de qualidade e processos com o objetivo de garantir a maior eficiência e produtividade. Equipes de processo e mineralogia aplicada, por meio de avançadas ferramentas e equipamentos, antecipam o comportamento do minério nas plantas de beneficiamento e definem os parâmetros mais adequados com o propósito de garantir a melhor recuperação metalúrgica do processo operacional. Além disso, etapas de planejamento de curto, médio e longo prazo nas minas, assim como um conjunto de indicadores de performance das plantas de flotação e química são fundamentais para garantir o atendimento aos requisitos do mercado e alcançar objetivos e metas do negócio”.

A maleabilidade do cobre

O Brasil está na 10ª posição no ranking mundial de produção do concentrado de cobre, com cerca de 554 mil toneladas, participando com 1,4% da necessidade do mercado mundial, em 2021. Considerado mineral estratégico devido à maleabilidade e à eficiência na condução de energia, suas características o situam como o primeiro metal para condução de energia, em virtude do fornecimento seguro e estável, sendo, assim, essencial para o crescimento econômico, o avanço tecnológico e a transição para uma economia mais verde.

Ediney Drummond, diretor-presidente da Lundin Mining Brasil – empresa canadense de mineração diversificada, com operações no Brasil, Chile, Portugal, Suécia e Estados Unidos – relata que, no Brasil, opera a Mina de Chapada, em Alto Horizonte (GO), produzindo concentrado de cobre e de ouro, e declara: “A Lundin Mining tem orgulho de ser uma empresa comprometida com a prática ESG, aplicando seus princípios em todas as decisões e ações. Estamos empenhados em garantir a proteção do meio ambiente, a segurança dos trabalhadores e o engajamento das comunidades em que atuamos”

De acordo com Drummond, o cobre vem se destacando no cenário mineral “devido ao avanço tecnológico e ao aumento da urbanização em muitas partes do mundo, o que tem impulsionado significativamente a demanda por esse metal. A infraestrutura moderna, como redes elétricas, veículos elétricos e painéis solares, depende do cobre em grande escala. Além disso, o desenvolvimento e o crescimento econômico de países emergentes ampliam a necessidade de infraestrutura, o que implica maior demanda pelo metal”.

O Vale do Curaçá, na Bahia, recentemente recebeu investimentos ao redor de R$ 1 bilhão, direcionados à perfuração de um poço de extração com 1.500 metros de profundidade, sendo o mais profundo em operação, na América Latina. A iniciativa partiu da Ero Cooper, que hoje detém o controle da EroBrasil Caraíba (operações das minas de cobre em Pilar, Vermelhos e Surubim). Para acompanhar este processo, a empresa anexou ainda R$ 400 milhões na introdução de um sistema shaft para transportar minério, mão de obra, equipamentos, em locais com 1.400 metros de profundidade, em apenas 8 minutos, no trajeto de ida ou de volta, reduzindo substancialmente o tempo usual, de 2h30, ampliando os índices de produtividade na mina.

Com toda a produção concentrada no Brasil, entre cobre e ouro, a empresa registrou recordes, em 2022, na produção de ambos, o que lhe permitiu obter um lucro bruto de US$ 208,6 milhões no ano e um lucro líquido de US$ 83,5 milhões. A produção de cobre alcançou 46,371 mil toneladas, enquanto o volume de produção de ouro ficou em 42,669 mil onças (oz). Eduardo De Come, CEO da Ero Cooper, enfatiza os resultados obtidos: “A meta de produção de cobre para o ano era de 43 mil a 46 mil toneladas, enquanto a de ouro variava de 39 mil a 42 mil onças, com expectativa de ampliar este montante até 60 mil onças (oz), nos próximos anos, por meio da mineração feita na mina de Nova Xavantina (MT)”.

O executivo comenta, ainda, que as reservas de cobre da mineradora são suficientes para abastecer o mercado até 2042. Mesmo assim, a empresa segue investindo em pesquisa: “Temos 25 sondas furando a área, tentando identificar novas reservas, pois além do potencial não explorado no País, os principais produtores – Chile e Peru – estão com seus depósitos exaurindo”.

Os principais investimentos da empresa direcionam-se à expansão da mina e da planta de Pilar, na Bahia, e ao projeto Tucumã, no estado do Pará. Com a unidade paraense, que recebeu investimentos de US$ 300 milhões e começa a operar em junho de 2024, o objetivo é dobrar a produção de cobre, até 2025. A novidade da Ero Cooper envolve a identificação de níquel, na Bahia. De Come é reservado na comemoração, porque o depósito ainda está sendo avaliado.

Usualmente a empresa investe, anualmente, US$ 50 milhões em sua operação brasileira e se especializou em concentrado de cobre, com 30% a 35% de cobre, para metalurgia, e no fornecimento de cobre com 99,999% de cobre para transmissão energética.

“Em fases anteriores, quando da Caraíba, a empresa direcionava 100% da produção para a Paranapanema. Com as dificuldades pelas quais a metalúrgica passou, a partir de 2018, cerca de 80% da produção foi direcionada para o mercado externo e 20% para a Paranapanema. Mas isso vem evoluindo e, em razão de logística, o ideal seria canalizar toda a venda para a Paranapanema”, esclarece De Come.

A diversidade das terras-raras

A cada dia o potencial mineral brasileiro se eleva. Embora nem sempre disponha das maiores jazidas e nem das mais competitivas, o Brasil se destaca no cenário mineral por sua capacidade de oferecer uma diversidade de minerais críticos, além de seu posicionamento como produtor confiável.

A Serra Verde Pesquisa e Mineração, por exemplo, está concluindo sua fase de construção do projeto de classe mundial para produzir elementos de terras-raras (ETRs), essenciais para a fabricação de ímãs permanentes usados em motores de veículos elétricos e geradores de turbinas eólicas. Atualmente, a mineradora está iniciando o estágio de comissionamento – momento em que as máquinas, equipamentos e estruturas são submetidas a testes para garantia do funcionamento seguro e eficiente – de sua unidade em Minaçu (GO).

A empresa detém um dos maiores depósitos de argila iônica fora da China, com importantes vantagens competitivas e ambientais devido à natureza do depósito e sua localização em uma área de mineração já estabelecida, com infraestrutura de energia renovável. Como detalha Luciano Borges, vice-presidente executivo da empresa, “a Serra Verde tem conhecimento efetivo da jazida e do seu potencial e a sorte de estar localizada em região tradicionalmente minerária, com disponibilidade de infraestrutura adequada e mão de obra qualificada, o que costuma ser um desafio para locais remotos”.

Destacando que a Serra Verde não atua no segmento da indústria nuclear, ou seja, a produção não irá atender a indústria nuclear, Borges lembra que existem “baixos níveis de radioatividade natural no minério que são devidamente tratados de acordo com os critérios e requisitos definidos pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEM)”.

“Acreditamos que Serra Verde pode liderar o desenvolvimento desse setor nascente. Mas, para que ocorra um crescimento significativo, os investidores precisarão estar convencidos de que o Brasil é uma região atraente para investimentos, com impostos e estruturas regulatórias apropriadas. Como a mineração é uma atividade de longo prazo, em média, um projeto bem-sucedido leva mais de uma década para entrar em produção. A sazonalidade de quatro anos e a descontinuidade de nossas políticas públicas pode ser fonte de grande incerteza. Por enquanto, apenas projetos verdadeiramente excepcionais, como a Serra Verde, com grandes jazidas de alto teor, acesso a infraestrutura e apoio político e comunitário estão sendo desenvolvidos”, explica o executivo.

Tradicional nesse segmento da atividade minerária, a Mineração Taboca opera em uma única propriedade há 41 anos. O seu complexo minero-industrial, na mina de Pitinga, em Presidente Figueiredo (AM), extrai e processa dois tipos de minerais: cassiterita e columbita, produzindo estanho, nióbio e tântalo. Recentemente, passou a estudar terras-raras e háfnio, dois importantes recursos minerais encontrados no mesmo complexo.

A partir desta decisão, a Taboca passou a se dedicar também à extração e ao fornecimento de terras-raras, sendo todos provenientes da mesma jazida. Na opinião do diretor de Sustentabilidade e Jurídico, Newton Augusto Viguetti Filho, o escoamento da produção merece total atenção. Ele cita a questão da manutenção e segurança da Rodovia BR-174, por onde a produção da empresa escoa, via porto de Manaus. Ressalta a importância da conclusão do projeto da linha de transmissão de energia elétrica Boa Vista-Manaus, que possibilite à empresa conectar-se ao Sistema Interligado Nacional.

Na área de Pesquisa e Desenvolvimento, a empresa atualmente soma esforços na obtenção de carbonatos de terras-raras com destaque para os elementos Neodímio (Nd), Praseodímio (Pr), Disprósio (Dy) e Térbio (Tb), elementos essenciais para a transição energética, direcionados à produção de baterias dos carros elétricos.

A Mineração Taboca exporta 90% de sua produção. O regulamento aduaneiro brasileiro não dificulta a comercialização de minerais críticos. Porém, na opinião de Viguetti Filho, uma atuação do governo para ampliar e estreitar as relações e acordos internacionais promoveria a indústria nacional e, potencialmente, traria maior competitividade. Políticas públicas de promoção da indústria de materiais críticos poderiam proporcionar ao País mais desenvolvimento de tecnologias, integração da cadeia produtiva e agregação de valor.

Fosfato: contato direto com o agronegócio

Na área de fertilizantes, o Brasil é o quarto maior consumidor global, superado apenas pelos Estados Unidos, Índia e China. Contudo, o País não é autossuficiente há mais de 40 anos. O processo para produção de fertilizantes é formado por uma série de operações no minério de fosfato, consistindo em lavra do minério na mina, beneficiamento mineral ou processamento nas usinas de beneficiamento. O fato coloca a mineração em contato direto com o setor do agronegócio, conferindo papel fundamental ao setor minerador na garantia de segurança alimentar de todos os países que consomem os produtos da agropecuária brasileira.

Elias Lima, vice-presidente de Operações da Mosaic Fertilizantes, afirma que a empresa se posiciona hoje como uma das maiores produtoras de fosfato e potássio combinados. Atua da mina ao campo na extração, produção, importação, comercialização e distribuição de fertilizantes, voltados para as mais diversas culturas agrícolas. Também desenvolve produtos para a nutrição animal e de especialidades. “Por meio da utilização responsável de fertilizantes, é possível gerar um incremento de produtividade sem a necessidade de expandir áreas de plantio, o que leva a uma produção agrícola mais sustentável e com menos impacto para o meio ambiente”, considera Lima.

A CMOC Brasil, além de se destacar no segmento de mineração e beneficiamento de nióbio, está entre as maiores fornecedoras de fertilizantes fosfatados do Brasil, sendo reconhecida “por sua capacidade de produzir todos os fertilizantes granulados, tanto de baixa concentração como de alta concentração de nutrientes N-P, assim como um produto fosfato bicálcico de excelente qualidade, destinado à nutrição animal”, declara Eduardo Lima, diretor de RH e Assuntos Corporativos.

A empresa mantém, no negócio de fosfatos, diversas operações que envolvem atividades na mina, usinas de beneficiamento e plantas químicas destinadas à produção de fertilizantes e de outros produtos fosfatados, como o fosfato bicálcico e o ácido fosfórico. Como explica Delfim Brás, vice-diretor de Fosfatos da CMOC, os processos industriais ao longo da cadeia produtiva visam a maximizar o aproveitamento dos recursos minerais.